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“O estado da Saúde – porque chegámos aqui” – José Boquinhas

“A Saúde tem sido varrida por uma série de notícias preocupantes acerca da degradação dos seus serviços e da dificuldade que os doentes têm tido para aceder a certo tipo de cuidados:

– listas de espera elevadas para certas cirurgias e consultas de especialidade;

– exames auxiliares de diagnóstico no ambulatório em Gastrenterologia e certas áreas da Imagiologia com atrasos a um nível insustentável que podem chegar a um ano, ao ponto de muitos hospitais já nem sequer inscreverem novos doentes por incapacidade de resposta em tempo útil;

– hospitais com aparelhos avariados há meses, o que agrava as listas de espera, por incapacidade financeira das administrações hospitalares de os mandar
reparar ou substituir;

– urgências em ruptura com centenas de doentes e várias mortes confirmadas em diversos hospitais enquanto esperavam por ser atendidos;

– profissionais em risco de esgotamento físico por horas e horas a fio a trabalhar para dar resposta a uma procura excessiva, mas não diferente da que
tem acontecido noutros anos nesta época do Inverno;

– doentes com hepatite C à espera do prometido financiamento de 100 milhões de euros em cinco anos para se poderem tratar
e que tardam em chegar;

– camas hospitalares encerradas em número excessivo, o que nos coloca ainda mais abaixo da média da União Europeia e da OCDE do que já estávamos, com 3,4 camas por 1.000 habitantes quando na OCDE é de 4,9;

– reduzido número de camas de cuidados continuados muito abaixo do que acontece na União Europeia, o que agrava as consequências da falta de camas com dificuldades nas altas médicas arrastando os doentes em internamentos de cariz social;

– encerramento de serviços clínicos de uma forma cega sem sustentação técnica, deturpando as orientações do memorando de entendimento quanto à Saúde;

– e emigração massiva de profissionais de Saúde, em especial, de enfermeiros, sendo referido terem já emigrado, de acordo com a Ordem dos Enfermeiros, 2.082 enfermeiros desde o início da crise, sendo que, só em 2014, terão emigrado uma média de 5,7 por dia, em especial, na região sul, mas também médicos, cerca de 200 em 2014, de acordo com a respectiva Ordem.

Porque chegámos a este estado de coisas e quais as suas causas, é a pergunta que todos devemos fazer, porque não era inevitável uma diminuição da qualidade tão acentuada, cuja verdadeira dimensão só iremos compreender quando começarem a sair os primeiros indicadores de Saúde relacionados com a mortalidade e morbilidade das populações referentes aos anos da crise.”

Excerto do artigo do Dr. José Boquinhas – Revista Portuguesa de Gestão & Saúde

Artigo disponível em: O estado da Saúde – porque chegámos aqui
RPGS disponível em: http://spgsaude.pt/website/revista-portuguesa-de-gestao-saude-no15-marco-2015

 

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