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Leal da Costa define prevenção como aposta apesar de “rumores de ministro curto”

O discurso do novo ministro da Saúde, feito durante a apresentação do relatório Diabetes: Factos e Números, oscilou entre as preocupações com o retrato desta doença em Portugal, os planos para uma legislatura de quatro anos e o impasse que se antevê no Parlamento e que pode ditar para breve o fim segundo Governo de Passos Coelho. “Apesar de correrem rumores não confirmados de que eventualmente poderei ser um ministro curto, a verdade dos factos é que não deixarei de continuar a pugnar por aquilo em que eu acredito e defender os objectivos da legislatura”, garantiu Fernando Leal da Costa, assegurando que a prevenção de doenças como a diabetes será uma prioridade.

Depois de uma referência feita pelo director-geral da Saúde, Francisco George, ao trabalho que Leal da Costa desenvolveu nos últimos anos na área da diabetes, o ministro fez questão de sublinhar que esse trabalho foi ainda feito como secretário de Estado Adjunto e da Saúde de Paulo Macedo. “Mas o meu antecessor partilhava obviamente dos meus pontos de vista sobre estes temas”, disse. O ministro considerou também que seria um “erro político grave” focar-se no “conflito político-partidário”, em vez de nas medidas para os próximos anos. Por isso, avançou que o reforço das verbas dedicadas à prevenção será uma prioridade.

Voltando ao relatório do Observatório Nacional da Diabetes, Leal de Costa destacou que “hoje a diabetes é uma doença com a qual se consegue viver mais tempo e com mais qualidade. Isso deve-se em grande parte ao facto de haver uma melhor intervenção dos actores e uma mais precoce intervenção”. No entanto, admitiu que “é expectável que durante os próximos anos tenhamos de vir ainda a assistir a um aumento progressivo do número de doentes” com diabetes. Para isso, segundo o governante, contribui o envelhecimento da população, mas Leal da Costa acredita que as políticas certas podem ajudar a travar o aparecimento de novos casos.

De acordo com o relatório, em Portugal, mais de 13% das pessoas com idades entre os 20 e os 29 anos têm diabetes, o que significa que mais de um milhão de pessoas têm esta doença que rouba pelo menos nove anos de vida a quem tem menos de 70 anos. A juntar-se a este dado, há outros preocupantes: além das pessoas com diabetes, há dois milhões de pessoas em risco de pré-diabetes – pelo que é muito provável que venham a desenvolver esta doença. Há praticamente 150 novos casos por dia e, apesar deste número elevado, estima-se que cerca de 40% das pessoas não saibam que têm a doença, pelo que não estão devidamente acompanhadas.

Leal da Costa mostrou-se preocupado com estes dados, mas destacou que há agora menos internamentos associados à diabetes, o que atribui às “intervenções em ambulatório e também a uma maior capacidade terapêutica em ambulatório”. Apesar da redução dos óbitos associados à diabetes, o ministro reconheceu que é preciso ir mais longe nas políticas direccionadas à prevenção, dando como exemplo o incentivo do exercício físico, da alimentação saudável e da redução do tabagismo. “Temos tido ganhos significativos em saúde mais à custa de intervenções eminentemente terapêuticas do que por intervenções preventivas”, disse. E acrescentou: “O grande desafio na próxima legislatura deste Governo – que eu desejo para o bem dos portugueses que tenha duração – é uma intervenção ao nível da prevenção. Temos de nos aproximar da média europeia nos nossos gastos em prevenção”.

Mais tarde, aos jornalistas, reforçou que “o Serviço Nacional de Saúde tem sido essencialmente financiado numa lógica de tratamento” e disse que a ideia é apostar mais na prevenção, nomeadamente com rastreios para várias doenças, tal como já acontece na vacinação. Questionado sobre se sente condicionado perante as actuais circunstâncias políticas, Leal da Costa garantiu que “não”, mas avisou: “É importante que os portugueses percebam que o Governo que escolheram para legitimamente os governar está neste momento ameaçado por um conjunto de circunstâncias que são politicamente ilegítimas”. O ministro disse mesmo temer um retrocesso nos resultados em saúde se vier outro executivo.

Menos rastreios no Algarve

Ainda sobre a diabetes, do lado mais negativo, o ministro da Saúde mostrou-se preocupado com a queda dos rastreios à retinopatia diabética em algumas zonas do país. Leal da Costa referiu-se em concreto ao Algarve, onde foram feitos praticamente menos 15 mil rastreios em 2014. “É com grande preocupação que assisto à diminuição das retinografias no Algarve. Se em 2014 fizemos menos 15 mil no Algarve, quer dizer que poderão ter escapado cerca de 800 doentes que necessitariam de uma intervenção. Como médico e como ministro não posso deixar de ficar preocupado”, assumiu, garantindo mais tarde aos jornalistas que vai reunir com a Administração Regional de Saúde do Algarve para traçar formas de ultrapassar o problema que atribui à saída de alguns profissionais de saúde numa região já com escassez.

Mesmo assim, Leal da Costa mostrou-se convencido de que é possível alcançar medidas que ajudem a reverter o número de novos casos de diabetes. O governante recordou uma resolução recentemente aprovada pelo Parlamento sobre a diabetes e aproveitou o momento para voltar a falar do actual contexto político. “Foi aqui citada uma resolução da Assembleia da República que foi aprovada por unanimidade, o que demonstra que as unanimidades são possíveis em torno de boas causas. E demonstra claramente que é possível, com alguma facilidade, encontrar compromissos em matérias que são verdadeiramente relevantes para todos os portugueses e eu tenho alguma dificuldade em encontrar uma matérias mais relevante do que a própria composição do Governo”, insistiu.

Fonte: Público, 3 de novembro de 2015

2 Comments

  1. João F Rodrigues

    É bom ver reconhecida publicamente a falta que fiz no ano de 2014 na RD do Algarve…enviaram-me para o “setor social” sem direito a subsídio e tanto doente para ser tratado (tratava 300 por ano, não era?) Obrigado Sr. Ministro

  2. Nuno Pereira Inacio

    Muito Bem, relembramos a fórmula de risco ajustado (criação de valor em saúde) = Esperado vs. Observado. É necessário investir em mais em estudos prospectivos, para criar novos instrumentos no alcance de ganhos em saúde p/ todos. Observatórios/Estruturas restrospectivos também apontar para processos mais proactivos, como o desenvolvimento de estudos prospectivos, a fim de captar maior investimento e investigação/tecnologia nas doenças crónicas, mas sobretudo no tratamento dos comportamentos e estilos de vida modificáveis, que em contextos de crise económica serão determinantes p/ a estimativa da morbilidade, incapacidade, e mortalidade evitáveis. Assim se fará a selecção de prioridadades com maior impacto económico na qualidade de vida e sustentabilidade de resultados do SNS. Não só na àrea da Diabetes mas que em breve será um Síndrome com todas as complicações micro e macro vasculares associadas, mas também no topo das causas de incapacidade e mortalidade ainda durante a vida ativa.

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