Uns mostram-se assustados com os aumentos e consideram recorrer menos aos serviços de saúde, outros têm as garantias de um seguro privado que lhes dá algum descanso. Mas em quase todos os casos os utentes são contra as novas taxas moderadoras. Há, no entanto, quem concorde com os preços e os veja como uma forma de triagem.
Até agora estava isenta, pensava-se que sofria de diabetes. Depois de alguns exames a médica informou-a de que é saudável, o que faz com que passe a pagar taxas. Maria da Conceição Silva está no centro de saúde de Sete Rios, em Lisboa, à espera de uma consulta que afinal vai ser adiada. Aos 60 anos, mostra-se assustada com a possibilidade de ficar sem isenção e coloca a hipótese de pôr a saúde de lado: “Não há dinheiro, não se pode ir”.
Do outro lado da sala, que está bastante composta, Mário Pinto assegura que não deixará de recorrer aos serviços de saúde: “Temos de cortar em muita coisa, mas a nível de saúde não. Principalmente por causa das crianças”. Está a aguardar por uma consulta de saúde oral. Veio com o filho Tomás, de 11 anos, que teve direito a um cheque-dentista.
À espera está também Cristina Marques, 42 anos, que veio pedir uma requisição de análises à médica de família. Os aumentos não a assustam, porque não recorre muito ao SNS, e até concorda com os preços das consultas: “Não são nada de mais”, declara perante o olhar impaciente da amiga que a acompanha. Considera que os preços podem vir a funcionar como “uma forma de triagem”.
A amiga Anabela Brízido mostra-se indignada, principalmente com a cobrança de cuidados de enfermagem. “Vai ser um rombo muito grande”, afirma. Apesar de ter seguro privado, reconhece que “não cobre muita coisa”.
Eduardo Assunção também tem um seguro privado. Está à saída das urgências do Hospital de Santa Maria, onde veio acompanhar uma tia. “A mim não me vai afectar, porque tenho um seguro”, declara, sem se mostrar assustado com os aumentos. Reconhece, no entanto, que para quem recorre muito ao SNS é um “aumento brutal”. Diz que deveriam ser criados escalões para que as pessoas pagassem de acordo com os rendimentos. “As pessoas vão recorrer menos aos hospitais”, diz.
À porta do hospital, também acabada de sair das urgências, está Ana Duarte, 28 anos. Vem apressada, com a bebé ao colo. “É uma brutalidade”, afirma. “Estes aumentos afectam toda a gente, os ordenados são cada vez são mais baixos e as pessoas não têm capacidade de pagar cuidados médicos”, diz. Ana Duarte tem uma filha de dois anos que sofre de asma, pelo que as corridas ao hospital são constantes. Por enquanto, ainda usufrui da isenção que abrange todas as crianças até aos 12 anos, mas admite que no futuro terá de “fazer sacrifícios”. “Por nós, ainda vamos aguentando [as idas ao médico], mas com os filhos não podemos fazer isso”.
Já na zona das consultas externas do Santa Maria, a sala de espera para a especialidade de cardiologia está meio cheia. Aleida Santos veio acompanhar a sogra, que tem consulta marcada. Apesar de reconhecer que não recorre muito aos serviços de saúde, esta jovem de 31 anos mostra-se preocupada com os aumentos. Mesmo assim, assegura que não vai adiar os cuidados de saúde. “Claro que me vai afectar, mas sem a nossa saúde não temos nada”, declara.
Fonte: Público, 21 de Dezembro de 2011