A Associação de Médicos de Clínica Geral avisa que o sistema público de saúde está à beira da ruptura devido aos “cortes cegos” feitos sem soluções alternativas e critica o desinvestimento nas Unidades de Saúde Familiar, preconizadas pela troika.
O presidente da associação lembra que o memorando da troika prevê cortes, mas também o reforço das Unidades de Saúde Familiares (USF), o que não tem acontecido, já que depois de um investimento de criação de centenas destas unidades, passou-se para “meia dúzia”.
A propósito da redução dos horários de atendimento dos centros de saúde – devida ao despacho que determina a diminuição das horas extraordinárias -, o vice-presidente da associação, Rui Nogueira afirma que a medida levará mais pessoas a procurar as urgências hospitalares.
Apesar de ter esta opinião, o médico reconhece que se tem “abusado” das horas extraordinárias e que esta situação não se poderia manter com os actuais constrangimentos financeiros, mas afirma que não é com cortes cegos que se resolve o problema.
“As horas extraordinárias têm sido usadas para colmatar questões estruturais, como a falta de médicos e este é um problema que se tende a agravar, porque a população está a aumentar, a crise está a levar mais pessoas ao Serviço Nacional de Saúde e há cada vez menos médicos”, afirma.
Por isso, o responsável alerta que fazer cortes cegos sem soluções alternativas pode levar ao “rompimento do sistema”, que actualmente já vive uma “situação de caos”.
“A solução já está criada e é defendida pela troika: o reforço das USF [Unidades de Saúde Familiares]. Mas o que é que tem sido feito? Depois de terem sido criadas 300 USF, este ano fizemos meia dúzia”, lamenta Rui Nogueira.
Para este responsável a região de Lisboa e Vale do Tejo precisa de “soluções urgentes”, porque é a zona com mais população e com mais falta de médicos de família.
“Já se vive uma situação de recurso com as horas extraordinárias, se não as há os serviços vão ficar completamente defraudados”, sublinha o médico, apontando a necessidade de avançar também com a reforma dos cuidados de saúde primários.
“O que se passa na saúde é o seguinte: está tudo inundado e em vez de se resolver esse problema, está-se a contar os pingos de chuva”, afirma, numa alusão aos cortes nas horas extraordinárias.
Fonte: Público, 04 de Outubro de 2011