As ordens dos Médicos e Enfermeiros lamentam a ausências de medidas concretas no guião para a reforma do Estado, apresentado ao final do dia. Dizem que o docuemento, no que diz respeito à saúde, é um conjunto de intenções sem explicar na prática como vão ser aplicadas.
José Manuel Silva, bastonário dos Médicos, afirma que é “lamentável” que o Governo não consiga concretizar medidas que apresenta agora como novas” e deixa um desafio aos ministro da Saúde e vice-primeiro ministro. “Participem num debate para mostrar o que está ser feito. Que é o contrário das medidas que vêm no documento”, aponta.
Um dos exemplos, refere, é a maior liberalização para a entrada de novas convenção na área dos exames que faz parte das medidas a aplicar no próximo ano. “Abrir a entrada a novos prestadores é o contrário do que foi feito com a nova legislação deste Governo, que fechou o sistema a novos operadores. É inacreditável que estabeleçam propósitos completamente contrários à produção legislativa”, afirma ao DN José Manuel Silva.
Quanto à fidelização dos profissionais de saúde para as áreas mais carenciadas, também proposta no guião para a reforma, o médico questiona de que forma vai ser feita já que o documento não esclarece. “Gostava que o Governo dissesse quais os instrumentos de fidelização. É preciso criar condições para ficar os médicos. Vai obrigar os jovens especialistas a trabalhar determinado tempo no SNS?”.
Germano Couto, bastonário dos enfermeiros, salienta o mesmo vazio de conteúdos. “O documento baseia-se em quatro pilares, mas não traz nada de novo. Diz que é preciso melhorar eficiência do SNS. É mais que justo e necessário. temos um conjunto de setores que temos de investir, como a doença crónica. O guião falar em reformar as áreas, mas não dá pormenores”, afirma o bastonário, lembrando que há 35 anos foram estabelecidas metas mas que continuamos muito focados na doença aguda.
O responsável reconhece que já foram feitas mexidas em áreas importantes, como o medicamento, mas afirma que é preciso muito mais. “Temos de mudar. Fala-se na otimização de recursos. Temos enfermeiros especialistas para quase todas as áreas que não estão a ser rentabilizados e recompensados. Quer-se reduzir a iniquidade, mas continuamos a cobrar taxas moderadoras nos cuidados de saúde primários quando queremos que sejam a porta de entrada na saúde”, diz.
Germano Couto lamenta ainda a não concretização de algumas medidas que têm sido defendidas pelo Ministério da Saúde. “Estou dececionado por não ver no guião o interesse de avançar para o enfermeiro de família, que tem sido apanágio deste Governo em 2012. Espero que no próximo ano seja uma realidade. Não concretiza como será gestão para redução de listas de espera, nem como será a aposta nos cuidados continuados”, afirma.
Fonte: Diário de Notícias, 30 de Outubro de 2013