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Promoção da atividade física nos cuidados de saúde primários: o facilitador de vidas mais saudáveis

Ruben Viegas1 , Romeu Mendes2,3,4 , Filipa Alves da Costa1

1- Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa – imed, Instituto de Investigação do Medicamento, Lisboa, Portugal

2- EPIUnit – Instituto de Saúde Pública, Universidade do Porto, Porto, Portugal

3- Laboratório para a Investigação Integrativa e Translacional em Saúde Populacional (ITR), Porto, Portugal

4- Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal

Resumo

Os estilos de vida sedentários são cada vez mais comuns, colocando cerca de 1,8 mil milhões de adultos em riscos de desenvolver doenças crónicas devido a níveis de atividade física insuficiente. Isto acontece uma vez que quase um terço dos adultos não cumpre as diretrizes de atividade da OMS. É então imperativo os sistemas de saúde serem proativos para promover atividade física, especialmente através dos cuidados de saúde primários, que desempenham um papel vital na garantia de um acesso equitativo aos serviços de saúde. A OMS defende a realização de intervenções breves, como o aconselhamento sobre atividade física, para abordar os principais fatores de risco para a saúde e prevenir as doenças não transmissíveis. No entanto, a escassez de mão de obra ameaça estes esforços, salientando a importância de descentralizar os cuidados primários e de colaborar com as entidades locais para melhorar os cuidados preventivos, em especial nas zonas com pouco acesso a cuidados de saúde. Os profissionais de saúde são cruciais na promoção da atividade física para fomentar estilos de vida mais saudáveis e obter os benefícios de uma população mais ativa.

Palavras-chave: atividade física, cuidados primários, cuidados de saúde, promoção da saúde

Comentário

À medida que os estilos de vida sedentários se tornam cada vez mais comuns, devido ao aumento das atividades profissionais com menores exigências físicas e à utilização crescente das tecnologias, é importante recordar às pessoas a importância de serem fisicamente ativas. A nível mundial, cerca de 1,8 mil milhões de adultos correm o risco de contrair doenças por não praticarem atividade física suficiente, o que significa que, atualmente, cerca de um terço dos adultos não cumpre os níveis de atividade física recomendados pela OMS.(1) Estes números podem ser motivo de reflexão para os decisores políticos investirem nos sistemas de saúde para se empenharem mais proactivamente na promoção da atividade física, como salientado, por exemplo, pelo trabalho centrado na promoção da atividade física em contextos de cuidados de saúde da rede europeia para a promoção da atividade física benéfica para a saúde.(2

Quando pensamos na promoção da saúde, não podemos deixar de referir a importância dos cuidados de saúde primários como um dos principais contribuintes para estas iniciativas. A declaração de Astana, assinada em 2018, sublinha os esforços que ainda têm de ser envidados nos cuidados de saúde primários para garantir que todas as pessoas, em todo o lado, possam ser o mais saudáveis possível durante a sua vida.(3) Os contextos dos cuidados de saúde primários variam consoante os países e o acesso aos serviços e à saúde também pode ser desigual consoante o local onde as pessoas vivem. Estes sistemas podem também tornar-se complexos e a colaboração entre setores e profissionais de saúde é indispensável para que o doente possa ter acesso aos melhores cuidados possíveis em qualquer momento.(4)

As intervenções breves são reconhecidas pela OMS como uma medida eficaz para abordar a mudança de comportamento em relação aos quatro principais fatores de risco que afetam a nossa saúde: consumo de tabaco, consumo de álcool, alimentação pouco saudável e inatividade física. O aconselhamento em matéria de atividade física é, segundo a OMS,(5) uma das “melhores soluções” para combater os fatores de risco acima referidos que contribuem imensamente para o desenvolvimento de doenças não transmissíveis. Uma das principais vantagens destas intervenções é o facto de poderem transmitir benefícios significativos para a saúde a nível da população quando aplicadas sistematicamente a uma grande proporção de pessoas.(6) Não é assim tão surpreendente que possam ser ainda mais eficazes se forem aplicadas adotando uma abordagem integrada.(7)

A escassez de mão de obra constitui uma séria ameaça para os nossos sistemas de saúde, uma vez que a OMS estima um défice de 10 milhões de profissionais de saúde até 2030, um número que deverá agravar-se ainda mais nos próximos anos.(8) Os profissionais de saúde são membros qualificados das equipas de saúde que possuem uma variedade de competências que podem ser utilizadas para orientar os doentes nos seus percursos através dos sistemas de saúde. A descentralização dos serviços nos cuidados primários pode ser um fator importante para garantir o acesso a medicamentos e serviços e proporcionar mais pontos de contacto para as pessoas que vivem com qualquer doença ou mesmo para as que utilizam os cuidados primários numa perspetiva preventiva. Esta abordagem pode ser especialmente relevante em zonas mais rurais ou mal servidas.(9) Nesse âmbito, as estruturas locais que já trabalham na promoção da atividade física podem ser um importante aliado, bem como outros parceiros que podem vir a fazer parte do apoio à promoção da atividade física no futuro.(10)

Os profissionais e sistemas de saúde têm a responsabilidade de se empenhar na promoção da atividade física como um instrumento importante para promover estilos de vida mais saudáveis e recolher todos os benefícios que uma vida mais ativa pode trazer.(11) Aproveitar todo o potencial das populações mais ativas é um desafio que todos os profissionais de saúde podem apoiar.

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