A Ordem dos Médicos (OM) não aceita cortes financeiros na Saúde que ponham em causa a qualidade dos cuidados, defendendo que eles incidam nos estimados 20% de desperdício do sistema, afirmou o dirigente Fernando Gomes, citado pela agência Lusa.
“Cortes só no desperdício, porque nos outros [sectores] não se justificam. É a nossa saúde que está em jogo, a saúde dos portugueses, e aí os cortes não poderão pôr em causa a saúde dos portugueses nem a qualidade dos serviços de saúde”, declarou o presidente da Secção Regional do Centro da OM.
O dirigente, que falava na Universidade de Coimbra à margem de um debate internacional sobre a Convenção de Direitos do Homem e Biomedicina, sustentou ser “essencial não cortar no funcionamento do Serviço Nacional de Saúde”, nem nos cuidados primários, nem nos cuidados hospitalares.
“Em relação às medidas da ‘troika’ muitas delas não assustam, pois já as defendíamos. Uma coisa é o que está naquelas medidas, pois não somos ingénuos, quando se fala em cortes de muitos milhões temos de saber onde vão ser feitos esses cortes”, observou Fernando Gomes.
Se o corte incidir nos 20% de desperdício no Serviço Nacional de Saúde, identificados num relatório do Tribunal de Contas, “é na organização, e a Ordem dos Médicos vai aplaudir”.
No entanto, “a questão é se não é”, acentuou.
A defesa da qualidade da saúde “vai ser o ‘leitmotiv’ da acção futura” da Ordem dos Médicos, disse, admitindo que isso se possa traduzir num novo protagonismo da sua organização.
“Do nosso lado haverá sempre uma colaboração leal e franca, dizendo nós aquilo que pensamos, sobre as questões”, observou, expressando algum receio que esta postura possa ser contrariada pelo poder político, citando o caso de uma lei espanhola que determina a inscrição obrigatória dos médicos, e que “pode significar o boicote económico a toda a uma organização”.
No entendimento de Fernando Gomes, “há formas de, quando organismos autónomos, independentes, assumem determinados protagonismos, tentar impedir que eles o façam”.
O dirigente afirmou ainda que “há toda uma serie de questões que se uma organização for demasiado incómoda, um poder político que a queira silenciar pode fazê-lo”, mas acrescentou: “Não estou a dizer que é isso que vai acontecer [em Portugal]”.
Fonte: rcm pharma, 11 de Julho de 2011