Bastonário da Ordem dos Médicos defende auditorias aos dados e garante que utentes e profissionais não têm a percepção de que o acesso aos serviços está garantido.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos as estatísticas divulgadas pelo Governo relativas ao aumento da produtividade no Serviço Nacional de Saúde (SNS) carecem de “auditorias”, com José Manuel Silva a denunciar uma “manipulação” dos dados.
“O Governo tenta com estatísticas suavizar os efeitos dos cortes”, disse o bastonário dos médicos à Rádio Renascença, acrescentando que “o Ministério da Saúde fica satisfeito se se realizarem menos actos médicos, porque é menos despesa para o SNS”. O médico lamenta, assim, que “ninguém audite as estatísticas e que faça uma análise para realmente ver o que traduzem”.
José Manuel Silva insiste que os números “são facilmente manipuláveis com o objectico de transmitir uma visão sempre positiva”, mas que na realidade tanto quem está no terreno como os próprios utentes sentem uma perda de qualidade e maior dificuldade de acesso aos serviços. E dá como exemplo de possibilidade de manipular números a excisão de cinco sinais cutâneos que se “pode registar como um acto cirúrgico ou como cinco actos cirúrgicos” distintos, condenando as administrações hospitalares a estarem mais preocupadas com os números do que em “obter ganhos em saúde”.
Numa reacção às declarações de José Manuel Silva, também à Renascença, o presidente cessante do conselho de administração do Hospital de Faro, Pedro Nunes, rejeita a visão da Ordem. O também antigo bastonário dos médicos assegura que as unidades até têm tentado simplificar os registos, uma vez que são pagos consoante os procedimentos que inscrevem e há uns mais bem pagos que outros.
No dia 16 de Maio, o secretário de Estado adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, anunciou que as cirurgias em Portugal aumentaram nos últimos seis anos cerca de 50%, sobretudo em resultado do acréscimo “espectacular”. “Entre 2006 e 2012 a actividade cirúrgica nacional” registou um “aumento de 49,5%”, afirmou o governante, explicitando que “em 2006 foram operados 345.321 doentes” e no ano passado 516.166 doentes, número que também representa um acréscimo de 2,5% em relação a 2011.
“Mas o que é mais significativo é que grande parte deste aumento de actividade cirúrgica deveu-se ao grande aumento da capacidade da cirurgia de ambulatório”, que registou o acréscimo “espectacular de 219%, mais rigorosamente 218,6%”, naquele período, salientou Leal da Costa. “Sem isto teríamos [em Portugal] uma lista de espera muito maior do que aquela que temos que, apesar de tudo, está razoavelmente controlada”, sustentou o secretário de Estado.
No mesmo dia, um relatório divulgado no site da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) considerava que a maioria das instituições hospitalares “garante uma taxa aceitável (de cirurgia de ambulatório), denotando o esforço de reconversão dos serviços cirúrgicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
Fonte: Público, 23 de Maio de 2013