Arrancou à meia-noite a greve de dois dias agendada pelos sindicatos dos médicos para hoje e amanhã. É a maior paralisação destes profissionais desde um protesto ainda na década de 1980, era então ministra da Saúde Leonor Beleza. Convocados pelos dois sindicatos, e com o apoio da Ordem dos Médicos, os médicos avançam para uma contestação com duas dezenas de reivindicações, em particular a exigência para que seja anulado o concurso para aquisição de serviços pagos à hora. Assegurados os serviços previstos como se fora domingo ou feriado, deverão ficar penduradas – nas contas do ministério – quatro mil cirurgias e 430 mil consultas.
Rejeitado o último apelo do ministro Paulo Macedo para se reunirem à mesa de negociações – num encontro convocado pelo ministério durante o fim-de-semana e que os representantes dos médicos classificaram de encenação mediática do lado do Governo – os médicos despiram as batas nos hospitais para as vestirem a partir das três da tarde na João Crisóstomo, em Lisboa, numa manifestação frente ao Ministério da Saúde.
Esta é uma paralisação que vai abranger todos os serviços dependentes do Serviço Nacional de Saúde, mas que deve deixar assegurados os serviços mínimos, com os hospitais a funcionarem à dimensão de um feriado ou um domingo.
O protesto dos médicos assenta numa longa lista de vinte itens, com o SIM e a FNAM a acusarem o Governo de “as múltiplas e graves medidas de restrição no acesso aos cuidados de saúde para um número crescente de cidadãos, colocando permanentes situações dramáticas aos vários sectores de profissionais de saúde”. Os clínicos sublinham desta forma que a decisão de avançar para a paralisação foi tomada também em nome dos utentes do SNS e da “qualidade do exercício da profissão médica e da sua formação contínua”.
Os sindicatos garantem um contingente de 3800 médicos para que fiquem garantidas urgências, prestação dos cuidados de quimioterapia e radioterapia, de diálise, serviços de imunohemoterapia com ligação aos dadores de sangue, recolha de órgãos e transplantes, cuidados paliativos em internamento, punção folicular em mulheres cujo procedimento de Procriação Medicamente Assistida (PMA) tenha sido iniciado e decorra em estabelecimento do SNS e a dispensa de medicamentos de uso exclusivamente hospitalar.
Governo faz contas à greve
Num braço-de-ferro que se acentuou na última semana, depois de terem falhado todas as tentativas de conciliação, o ministro da Saúde manifestou a abertura do Governo para negociar antes ou depois da greve, deixando no entanto o recado aos médicos que voltar a reunir depois de consumada a greve de dois dias não poderia já evitar “os prejuízos que daí advêm para os portugueses”.
No domingo, constatada a ausência dos representantes do médicos – como haviam feito saber de véspera – o ministro afirmava, com uma nota crítica, que o “Governo continua a dialogar com as organizações sindicais com o intuito de impedir que os portugueses sejam sujeitos ao sacrifício de uma greve inevitável”. Da sede da João Crisóstomo foram feitas as contas aos “custos” da paralisação: 4 mil cirurgias canceladas e mais de 400 mil consultas por realizar, 100 mil nos hospitais e 330 mil nos centros de saúde.
Uma responsabilidade que é alijada pelos representantes dos clínicos, que – apontando essa incapacidade de Paulo Macedo de durante mais de seis meses apresentar propostas “válidas”, depois de desconvocada a paralisação do início do ano – asseguraram já a realização das intervenções e consultas logo nos dias subsequentes à greve.
Os representantes dos médicos já haviam entretanto deixado o recado aos utentes para que não acorressem desnecessariamente aos hospitais e centros de saúde, dando essa garantia de que os serviços seriam recuperados a partir de sexta-feira.
Fonte: RTP Notícias, 11 de Julho de 2012