A informação foi dada por Correia da Cunha, presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte – Santa Maria e Pulido Valente –, esta quarta-feira, no final de um debate cujo objectivo foi discutir os impactos da crise na Saúde, Educação e Ciência no âmbito daquela instituição.
Cerca de 100 profissionais de Santa Maria saíram para o novo hospital de Loures, uma unidade estatal que é gerida em parceria público-privada pelo grupo Espírito Santo Saúde; os restantes 80 seguiram outros caminhos. Correia da Cunha espera que, incluindo os que já saíram, abandonem a instituição um total de 460 médicos e enfermeiros nos próximos meses, uma consequência também da meta de redução de 263 camas, até ao final deste ano, das actuais 1340 camas existentes na unidade. Correia da Cunha afirma que em nenhum destes casos se tratou de “dispensa por razões financeiras. As pessoas saem porque querem sair”.
O presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Norte explica estas reduções também pela abertura do novo hospital em Loures, que poderá vir a retirar cerca de 20% da área assistencial do Santa Maria. Existem ainda as restricções orçamentais impostas pelo memorando da troika, acrescenta. O responsável conta conseguir um equilíbrio das contas até ao final de 2012. O orçamento da unidade está a ser negociado com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo.
Correia da Cunha relativiza a saída de médicos e enfermeiros e diz: “mal de nós se não resistissemos à pesca de profissionais por outras unidades”, notando que outras saídas foram acontecendo em momentos diferentes com as abertura dos hospitais Garcia de Orta, em Almada, do de Cascais, do Amadora-Sintra e, como unidade privada, do Hospital da Luz.
O responsável nota que, neste momento, assiste às saídas mas está impedido de contratar. “Esta perda de autonomia na contratação é uma imposição que só pode ser admitida como transitória, num período da carência absoluta”.
De qualquer forma, diz: “Não precisamos de tanta gente nas instituições, temos ratios de médicos exagerados por não haver dedicação exclusiva [os médicos podem acumular prática pública com privada]”, defendendo “a separação das águas”.
O hospital, a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e o Instituto de Medicina Molecular estão reunidos no Centro Académico de Medicina de Lisboa e o receio dos cortes orçamentais justificou a realização deste simpósio que decorreu hoje na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, moderado pelo ex-administrador do Santa Maria, Adalberto Campos.
Fonte: Público, 30 de Junho de 2012