Plano do Ministério da Saúde pretende acabar com a falta de médicos de famílias em três anos e minimizar a escassez de clínicos no interior do país. Ordem dos Médicos aplaude medidas e defende concursos “justos, céleres e transparentes”.
É mais recente receita para tentar resolver a crónica falta de médicos de família nos próximos três anos. A colocação de médicos vai passar a ser feita de forma centralizada e não ao nível regional, como até aqui.
A medida consta da Reforma dos Cuidados Primários que o vai ser apresentada esta quarta-feira. Ao que a Renascença apurou junto de fonte do gabinete do Ministério da Saúde, o plano conta com a nova geração de médicos que terminam a formação nos próximos cinco. São cerca de dois mil novos médicos que terminam o internato e que podem ser direccionados para esta área. O plano inclui também os médicos reformados que vão regressar ao activo, acumulando a reforma com dois terços do ordenado. O Ministério da Saúde acredita que pelo menos 300 clínicos vão aceitar voltar, durante dois anos, até que haja médicos de família suficientes para as necessidades.
A centralização da colocação de médicos pretende dar uma cobertura mais completa e mais racional às necessidades na distribuição dos médicos por todas as zonas do país, uma medida que pode ajudar a combater a falta de médicos no interior, mas sobretudo nas áreas de grande densidade populacional, como a região de Lisboa.
Ainda nesta matéria irá ser criada uma aplicação interactiva que irá permitir acompanhar essa distribuição e avaliar o trabalho e o número de doentes de cada médico.
O plano que o Governo pretende colocar em marcha prevê o abandono dos incentivos financeiros para que os médicos de família aceitassem mais utentes. A medida foi criada pelo governo de Passos Coelho mas que teve pouca adesão.
De acordo com a mesma fonte, o Ministério da Saúde tem outras medidas de apoio que poderão atrair e fixar os jovens que acabam o internato e até os que tiveram de sair do país
Nesta altura, segundo os cálculos mais recentes, um milhão de portugueses não têm médico de família.
Ordem dos Médicos concorda
O bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, diz estar de acordo com a intenção do Governo de colocar jovens médicos nos centros de saúde, defendendo concursos de admissão “justos, transparentes e céleres”.
Em declarações à agência Lusa, José Manuel Silva concordou com a intenção do Governo, mas reiterou que, “no imediato”, a questão só se resolve contratando médicos de família reformados.
Para José Manuel Silva, o problema de falta de clínicos a exercer no SNS “resolve-se com os jovens que estão actualmente a ser formados como especialistas de medicina geral e familiar a um ritmo de 400 por ano”.
“É preciso contratá-los, e que os concursos sejam justos, transparentes e céleres. Isso é o normal, é o que se espera que o Estado faça”, sublinhou.
O bastonário insistiu na ideia de que em Portugal não há falta de clínicos mas de concursos “justos, transparentes e céleres” para admissão no Serviço Nacional de Saúde.
“Nós não temos um problema de falta de médicos em Portugal. Temos um problema de contratação para o Serviço Nacional de Saúde, ou de não contratação ou de dificuldade na contratação”, explicou José Manuel Silva, nas declarações à Lusa.
O bastonário lembrou que nos últimos quatro anos emigraram mais de mil médicos de família devido “às dificuldades de contratação criadas pelo anterior Governo”, e também pela desqualificação do trabalho médico e a “enorme pressão burocrática” sobre aqueles.
“O computador está a substituir o doente como elo central da consulta, o doente está a deixar de ser o centro da consulta para ser o computador e as pressões burocráticas, as regras e os indicadores. Todo esse trabalho destabiliza o trabalho do próprio médico e muitos optaram por sair do SNS, emigrar e ir para o sector privado ou para reformas antecipadas”, disse, acrescentando: “o que se passou nos últimos quatro anos foi mau”.
Fonte: Rádio Renascença, 24 de fevereiro de 2016
Concordo.
É preciso dar o ponta-pé de saída para uma solução rápida e justa para os jovens médicos e a cobertura do País de clínicos.