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Gestão, Qualidade e Desempenho dos Sistemas de Saúde: perceção dos administradores e gestores hospitalares

Tania Gaspara, b,c.d.e*, Barbara de Sousaa,d.e , Maria Céu Machado,c,e  a Universidade Lusófona, HEI-LAB, Portugal
b CHRC/ Universidade NOVA de Lisboa, Portugal
ISAMB – FM / Universidade de Lisboa, Portugal
Aventura Social – Associação, Portugal
Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis, Portuguese Laboratory for Healthy Workplaces, Lisboa, Portugal

Abstract

A qualidade dos serviços é um dos objetivos centrais dos sistemas de saúde. A avaliação destes e do respetivo desempenho, inclui indicadores como acesso, equidade, qualidade, segurança e custos.

O presente estudo presente identificar a perceção dos administradores e gestores hospitalares em relação às forças, fragilidades e proposta de melhoria da gestão, qualidade e desempenho dos sistemas de saúde.

O estudo inclui membros da administração e gestão de hospitais públicos portugueses, é constituída por 32 participantes, 56,3% do género feminino, com idade mínima de 37 anos e idade máxima de 67 anos, média de 51,1 anos de idade com desvio padrão de 7,65.

Os resultados da Análise SWOT, além da identificação de pontos fortes e fracos, foram propostas melhoria. As principais propostas de melhoria indicadas relativamente à Administração Gestão são: 1) Autonomia; 2) Planeamento Estratégico do trabalho da organização; 3) Comunicação e Envolvimento Organizacional; 4) Inovação e 5) Aumento de Recursos.

Ao nível dos procedimentos salientam a necessidade de 1) Interligação de redes e softwares; 2) Agilização de processos; 3) Melhoria da articulação com a comunidade (serviços e parcerias); 4) A modernização das instalações.

Em relação aos profissionais propõem que seja melhorado: 1) Condições de contratuais; 2) Condições de trabalho e 3) Relações laborais. Por último, relativamente aos doentes, sugerem melhoria de: 1) Acesso, Instalações e Procedimentos; 2) Prestação de cuidados e 3) Promoção de Literacia e envolvimento.

Concluímos seis desafios do Sistema Nacional e Saúde: Desafio 1 – Político – políticas de saúde a médio/ longo prazo numa visão de qualidade, justiça social e investimento na manutenção e melhoramento do sistema de saúde; Desafio 2 – Gestão – seleção transparente/competências específica, autonomia e prestação de contas/responsabilização; Desafio 3 – Doentes – literacia em saúde, comunicação, capacitação e acesso aos cuidados de saúde; Desafio 4 – Recursos Humanos – adequação às necessidades (número e especialidade), formação contínua, incentivos baseados no desempenho e responsabilização; Desafio 5 – Transformação digital – a utilização de tecnologias de informação e comunicação na área da saúde, pode revelar-se muito positiva para os doentes, para os profissionais, para a organização e para o funcionamento global dos serviços de saúde; Desafio 6 – Resultados – rigoroso e realista estabelecimento de objetivos e metas (contratualização), antecipação e avaliação de resultados, gestão clínica e gestão do desempenho.

Introdução

A qualidade dos serviços é um dos objetivos centrais dos sistemas de saúde. A avaliação destes e do respetivo desempenho, inclui indicadores, tais como acesso, equidade, qualidade, segurança e custos .1.

Podem ser identificados sete pilares da qualidade em saúde: 1) eficácia; 2) eficiência, 3) efetividade; 4) adequação/otimização; 5) conformidade / aceitabilidade; 6) legitimidade e 7) equidade. A avaliação da qualidade das organizações de saúde, numa perspetiva sistémica, deve ter em conta diversos conceitos fundamentais, tais como, a liderança, estratégia, planos, doentes, sociedade, informações e conhecimentos, pessoas, processos e resultados. O processo de gestão estratégica com vista à qualidade e melhor desempenho em saúde é composto por seis etapas: 1) diagnóstico ou análise das influências dos stakeholders, da intenção estratégica da organização, e análise dos ambientes externo e interno; 2) formulação ou definição do plano e opções estratégicas; 3) implementação, execução da estratégia através do plano de ação; 4) controlo, monitorização do desempenho estratégico através de indicadores; 5) retroalimentação, ou seja, mudanças e adaptações necessárias na trajetória estratégica; 6) aprendizagem, desenvolvimento de processos e práticas que promovam a aprendizagem organizacional em gestão estratégica2.

A Organização Mundial de Saúde3  apresenta funções de gestão nos serviços de saúde, tais como política e planeamento, gestão e planeamento, financeiro e  de recursos humanos, governance e avaliação, gestão e planeamento da prestação de serviços, informação e gestão do desempenho. São fundamentais a  garantia da qualidade, acreditação, satisfação e segurança do doente, gestão do desperdício e monitorização e avaliação da qualidade dos serviços, gestão do risco e clima de supervisão e apoio organizacional. Ao nível da gestão, as organizações de saúde necessitam de equilíbrio em quatro campos: 1) número adequado de gestores em todos os níveis do sistema; 2) gestores com competências adequadas; 3) sistema de apoio e suporte da gestão; 4)  condições adequadas no ambiente de trabalho. Estas quatro condições estão intimamente ligadas e devem ser reforçadas como um todo.

Soluções para compreender e melhorar a qualidade, custo e acessibilidade a um sistema de saúde que incluam apenas um ou dois componentes não são suficientes. A natureza do sistema de saúde carece de ser reformulada, através da  competição de resultados baseada no valor, incluindo profissionais de saúde, planos de saúde, cidadãos e consumidores, fornecedores e governo. A literatura defende que a reforma deve envolver transformação de estratégias, estrutura organizacional, abordagens de financiamento e avaliação das práticas dos diversos atores do sistema1,4-7.

A segurança do doente e a qualidade dos serviços de saúde são propriedades prioritárias do sistema de saúde, e consequentemente, para melhoria dos resultados da organização deve ser realizada uma apreciação sistemática global que contribui para esses resultados8. Como outros sistemas, o de saúde, assenta sobre dois conjuntos de conceitos: emergência e hierarquia; controlo e comunicação e é constituído por diferentes hierarquias, nomeadamente o cidadão e a comunidade, a organização (hospital, centro de saúde, etc.), a acreditação e governo9.

European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions 10  dedica-se às ligações entre o diálogo social, as condições de trabalho, a qualidade do trabalho e o respetivo impacto no desempenho da organização e através da análise de seis estudos de caso conclui que existe uma clara relação entre eles. A formação surge como o fator com maior impacto na melhoria do desempenho. A saúde, a segurança e o bem-estar contribuem para o aumento do desempenho e produtividade de cerca de 20% com menos  faltas por doença e  gastos associados. O estudo conclui que uma organização com políticas flexíveis, bem desenvolvidas promotoras de um equilíbrio entre o trabalho e a vida privada tem um impacto positivo, assim como maior facilidade de recrutar e manter os profissionais, maior dedicação dos profissionais, menos acidentes e erros e maior satisfação laboral5,11.

A investigação que analisa a relação entre a gestão e os resultados e desempenho das organizações de saúde apresenta algumas limitações quantitativas e qualitativas, uma vez que a maioria dos estudos revela resultados face a problemas /temas /contextos de saúde específicos. No entanto, permitem algumas conclusões, como, demonstra que intervenções que permitam desenvolver as capacidades/competências de gestão facilitam e influenciam o desempenho,  o envolvimento do governo é fundamental para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde e da saúde da população e valoriza o fortalecimento e empowerment do papel da gestão e da gestão intermédia. Outro ponto a salientar é que, a melhoria dos resultados, é um processo que implica o desenvolvimento de comportamentos e culturas e pode demorar anos até se refletir claramente na gestão e o desempenho. Por último, a gestão é uma capacidade individual e do sistema, na qual todos os níveis e intervenientes beneficiam de uma articulação eficaz e articulada. O sistema de saúde precisa de uma estratégia tripartida para melhorar a saúde global, nomeadamente educação e formação, prática e investigação. Um forte enfase na gestão, como um elemento fundamental para a saúde global, pode abrir novos e sustentáveis caminhos para melhoria do desempenho dos sistemas de saúde12.

O conhecimento e as competências da gestão são fundamentais para o desempenho das organizações de saúde13. A sustentabilidade das organizações de saúde está intimamente ligada à capacidade que as organizações de saúde têm de avaliar os seus processos e resultados, identificar necessidades de mudança e implementar e monitorizar de modo eficaz estratégicas de mudança. O foco da gestão terá de ser a excelência, a qualidade dos serviços prestados, os serviços de apoio ao doente, e posicionamento no mercado14-17.

A avaliação das organizações de saúde deverá ter uma abordagem multidimensional de diferentes tipos de processos e resultados18,19

Uma boa gestão da organização de saúde é fundamental para o seu bom desempenho, para a motivação e retenção dos profissionais de saúde e bem-estar dos doentes17. 20 conclui-se que é importante ter uma política de retenção de profissionais através da valorização, incentivos e promoção da formação contínua. A gestão global da saúde deve ter em consideração diversos fatores: a) competências fundamentais; b) aumento da capacidade de gestão uma perspetiva de objetivos pessoais; c) fortalecimento da investigação na área da gestão e na melhoria do desempenho do sistema de saúde.

As competências da gestão nas organizações de saúde estão intimamente ligadas com o desempenho organizacional, especialmente as competências relacionadas com o processo de partilha de informação e comunicação21,13.

Bradley, Taylor e Cuellar12 identificam oito competências fundamentais para fortalecimento da gestão dos sistemas de saúde: 1) pensamento estratégico e resolução de problemas; 2) gestão:  de recursos humanos, financeira,  e operacional  do desempenho; 6) governance e liderança; 7) análise política e comunicação; 8) avaliação e envolvimento da comunidade e do cidadão.

Um trabalho desenvolvido22 para o Observatório Europeu para aos Sistemas e Políticas de Saúde da Organização Mundial de Saúde aprofunda o papel da avaliação do desempenho para a melhorias das organizações e do sistema de saúde conclui que a avaliação de desempenho permite aos decisores políticos melhorar e acompanhar mais eficazmente os sistemas de saúde, e a todos os atores decisões com maior qualidade. A avaliação do desempenho deve ser liderada pelos governos, deve-se ter cuidado com a definição dos indicadores de desempenho, apresentá-los de forma clara, acessível e contextualizá-los em temos sociais. Algumas áreas ainda têm deficits de indicadores desempenho, como a saúde mental e a proteção financeira. A divulgação da informação da avaliação de desempenho deve ser clara e compreensível para profissionais, cidadãos e outras partes interessadas e monitorizada regularmente. Incentivos financeiros para as organizações com melhor desempenho pode ser uma medida promissora para as políticas e investigação uma vez que as decisões devem ser baseadas na evidência científica rigorosa.  

Num estudo de Braithwaite et al23 a comparação entre oito países mostrou que os indicadores mais referidos são por ordem de importância: qualidade e segurança, acesso, experiência do doente, resultados de saúde da população e eficiência. E que a avaliação de desempenho deve ser suportada através de uma estrutura lógica, universalmente aceitável e disponível para o desenvolvimento de um indicador nacional. Deve definir o foco e dimensões de desempenho, ajudar a alinhar o sistema de avaliação com as outras políticas e exigências financeiras e dar uma visão clara para incentivar a aceitação dos profissionais de saúde e dos cidadãos. E ainda integrar diferentes domínios e tenha um equilíbrio de indicadores ao nível da estrutura, processo e resultados

O presente estudo presente identificar a perceção dos administradores e gestores hospitalares em relação às forças, fragilidades e proposta de melhoria da gestão, qualidade e desempenho dos sistemas de saúde.

Artigo Completo em:
https://spgsaude.pt/spgsweb/wp-content/uploads/2025/08/SPGS40-1.pdf


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