O fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Arnaut, disse hoje que Correia de Campos, ministro da saúde no primeiro governo de José Sócrates, adoptou medidas “inadmissíveis a um governante socialista”.
Instado pela agência Lusa, a comentar declarações de Correia de Campos, hoje, ao ‘jornal i’, manifestando-se magoado com António Arnaut e Manuel Alegre, o fundador do SNS sustenta que o ex-ministro “deve queixar-se das suas políticas erradas” e não de quem se opôs a elas.
Em entrevista ao jornal, Correia de Campos afirma, designadamente, que Arnaut e Alegre combateram “as políticas de racionalização do SNS” por si conduzidas, enquanto titular da pasta da Saúde, e que sente “imensa mágoa” pela atitude de “pessoas com responsabilidade política” como é o caso dos dois ‘históricos’ do PS.
Para António Arnaut, o antigo ministro “diz que está magoado, mas está ressentido porque acabou por ser demitido ou por se demitir de ministro da Saúde”, na sequência dessas críticas, que, sublinha, foram comuns a “muitas outras pessoas”, como “o próprio Presidente da República”, que, então, “veio dizer que era preciso ter cuidado com as políticas de saúde”.
Entre as medidas de Correia de Campos contestadas por Arnaut contam-se o “encerramento precipitado de algumas unidades de saúde”, antes de “estarem criadas alternativas que as substituíssem” e a criação das “chamadas taxas moderadoras para cirurgias de ambulatório e para internamentos hospitalares”.
Essas taxas “não eram moderadoras (os tratamentos em causa não dependiam de decisão do utente, mas do médico), eram formas de co-pagamento”, que “é inconstitucional” e “em circunstância alguma deveriam ser instituídas por um governante socialista”, sustenta Arnaut, recordando as críticas que, na altura, fez a Correia de Campos.
“O próprio Correia de Campos, mais tarde, quando se demitiu ou foi demitido de ministro, reconheceu que essas taxas ditas moderadoras eram um ensaio para no futuro estabelecer formas de co-pagamento”, afirma Arnaut, frisando que tais taxas acabaram por ser “revogadas por unanimidade pela Assembleia da República”.
António Arnaut considera que o antigo ministro da saúde também “adoptou medidas corretas” e que na altura as elogiou, tal como reconhece “mérito a Correia de Campos”, designadamente, quando foi secretário de Estado da Saúde no governo de Lurdes Pintasilgo, em que “teve um papel importante numa primeira fase da implementação do SNS”.
“Talvez pela sua passagem pelo Banco Mundial”, Correia de Campos tenha mudado de ideias e passado a ter “uma visão liberal”, admite Arnaut, salientando que “ele tem o direito de mudar, mas como socialista tem obrigação de defender o modelo de SNS traçado na Constituição, com a matriz do PS”.
Com as declarações hoje publicadas pelo ‘jornal i’, Correia de Campos “está a servir de lebre à direita e a abrir o caminho para as previsíveis arremetidas do governo contra o SNS”, lamenta António Arnaut.
Fonte: Diário de Notícias, 20 de Agosto de 2011