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Fim da isenção aos 12 anos dificulta acesso das crianças à saúde

A pediatra Maria do Céu Machado afirma que o valor “considerável” das taxas moderadoras dificulta o acesso aos cuidados das crianças com mais de 12 anos, altura em que deixam de estar isentas, o que pode ter consequências na saúde.

 Em entrevista à agência Lusa, a diretora do departamento de pediatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, manifestou-se preocupada com o acesso e a equidade no acesso aos serviços de saúde, tendo em conta o valor das taxas moderadoras, que têm “um peso considerável”.

Maria do Céu Machado lembrou que as crianças com menos de 12 anos estão isentas do pagamento de taxa moderadora, mas “não em todos os exames”.

A apreensão da ex-Alta Comissária da Saúde refere-se mais às crianças com mais de 12 anos e a algumas doenças crónicas que exigem exames e tratamentos que não estão isentos do pagamento da taxa moderadora.

A especialista contou um caso recente de uma criança com mais de 12 anos a quem foram prescritos exames, cujas taxas moderadoras eram superiores a 90 euros, valor que a mãe não podia pagar.

“Se começamos a ter taxas moderadoras com peso considerável, as pessoas vão fazer com os exames o que já fazem com medicamentos”, disse.

A não realização dos exames, ou de parte deles, por motivos financeiros pode ter consequências na saúde destas crianças, disse.

Esta situação, avançou, “pode ter peso nos indicadores, porque o segredo é agarrar a situação clínica numa fase tratável e reversível”.

A este propósito, Maria do Céu Machado lembrou os indicadores de saúde que têm enchido de orgulho os profissionais nesta área e que se refletem, por exemplo, na diminuição em 86 por cento da mortalidade infantil.

São estes indicadores que Maria do Céu Machado receia virem a ser afetados, embora a pediatra ressalve que ainda não existem dados que possam chegar a essa conclusão.

Ainda sobre os efeitos da crise na saúde das crianças, Maria do Céu Machado garantiu que ao Hospital de Santa Maria ainda não chegaram casos a necessitar de internamento por subnutrição ou fome.

“O que tem havido é um aumento dos pedidos de apoios sociais para os transportes, para a senha de almoço — que era oferecida aos pais quando tinham filhos internados, o que entretanto acabou — ou material como livros escolares”, declarou.

Estes pedidos são normalmente encaminhados para organizações de apoio à infância, que se certificam das necessidades e depois ajudam, disse.

Maria do Céu Machado sublinhou que, no cenário atual de crise, todos estão mais atentos para estas questões e tentam antecipar as suas consequências.

Fonte: RTP Notícias, 9 de Janeiro de 2012

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