O especialista em saúde pública Mário Durval alertou, esta segunda-feira, para os riscos da falta de higiene das roupas de cama, a propósito do caso da prisão da Carregueira noticiado pelo JN, sublinhando que pode implicar o aparecimento de doenças infeciosas e pragas.
O alerta de Mário Durval, da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, surge na sequência da notícia divulgada, esta segunda-feira, pelo JN, que denuncia a falta de condições de limpeza das roupas de cama no Estabelecimento Prisional da Carregueira (EPC).
As capas dos colchões dos guardas prisionais da cadeia da Carregueira não são lavadas há 12 anos e os cobertores dos reclusos há dois anos. Desde a inauguração da cadeia, em 2002, que os 180 guardas do EPC, Sintra, vivem com medo de apanhar alguma doença, dada a falta de higiene nas camas. Mas os cobertores, colchas e edredões dos 740 reclusos também não são lavados há cerca de dois anos e a roupa de trabalho há dois meses.
Confrontado com esta situação, Mário Durval disse à Lusa que “há uma série de situações que podem advir da falta de higiene de roupa que se utiliza nas camas”, como doenças infeciosas e pragas.
“É evidente que roupa de cama e outras roupas que estão em condições de prisão, com uma proximidade muito grande – nem sei se as próprias condições de ventilação são as melhores” -, podem acumular micro-organismos, poeiras, que podem implicar doenças infeciosas ou pragas, salientou.
O especialista defendeu que, neste tipo de estabelecimentos, em que há “uma utilização intensiva do espaço” por várias pessoas, o “mais importante” é fazer “uma higiene frequente desse tipo de roupas”.
“Espero que, pelo menos, mudem as roupas nos quartos em que os reclusos podem receber as companheiras”, comentou à Lusa.
Sobre a regularidade com que as roupas devem ser mudadas e lavadas, Mário Durval disse: “Anos não de certeza que não é aconselhável”.
Há também várias condicionantes que devem ser ponderadas, como se a roupa é utilizada por mais do que uma pessoa.
Contudo, “nas cadeias há normalmente alguma rotação de pessoas” e, por isso, cada vez que há uma pessoa nova deve mudar-se e lavar-se a a roupa, aconselhou.
“Quando está a mesma pessoa a usar a mesma roupa, a frequência de lavagem dos cobertores deve ser idêntica à que se faz nas nossas casas de, pelo menos, uma vez por ano”, adiantou.
No que respeita à lavagem das roupas de trabalho, estas devem ser tratadas no final da semana de trabalho, “isso é uma coisa que não faz sentido que não seja assim”, comentou.
Um guarda prisional que presta serviço há mais de uma década na prisão da Carregueira, onde cumprem pena Carlos Cruz, Isaltino Morais, Vale e Azevedo, Jorge Ritto, Carlos Silvino (“Bibi”), entre outros, disse ao JN que naquele estabelecimento se vive “num ambiente de porcaria e nojo”.
O presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, Jorge Alves, confirmou esta situação ao JN, afirmado que “são deploráveis as condições de falta de higiene no EPC”.
Uma fonte prisional revelou que “das quatro máquinas de lavar industriais existentes no EPC, só uma funcionava até há cerca de um mês – as outras estão avariadas há imenso tempo -, altura em que uma fiscalização detetou elevados níveis de monóxido de carbono na lavandaria, o que levou ao seu encerramento”.
Fonte: Jornal de Notícias, 17 de Março de 2014