A ex-ministra da Saúde alertou na noite de terça-feira que a anunciada greve dos médicos poderá pôr em causa o atendimento nas urgências, apesar de entender os motivos da reivindicação.
“Se não for encontrada uma solução, uma greve às horas extraordinárias nos serviços de urgência pode pôr em causa o atendimento ou reduzir a qualidade dos serviços com situações de sobrecarga, que podem prejudicar os doentes”, disse Ana Jorge à Agência Lusa.
A ex-ministra da Saúde, do anterior governo de José Sócrates, referiu que “entende a posição dos médicos”, ao afirmar que há uma “contradição” do Governo, ao proibir os médicos de fazer horas extraordinárias e ao mesmo tempo reduzir o seu valor.
Ana Jorge falava à margem da Assembleia Municipal da Lourinhã, à qual preside.
A partir das 08:00 de 2 de Janeiro os médicos que aderirem à greve nacional não vão prestar trabalho extraordinário, segundo o pré-aviso publicado pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM).
O documento esclarece que os médicos fazem greve “como forma de protesto público contra a degradação do trabalho e contra a degradação do Estado social e do Serviço Nacional de Saúde (SNS), motivada por anos de despesismo incontrolado e doloso de sucessivos governos e legislaturas”.
Após o início da greve, os médicos não irão prestar trabalho extraordinário, mas mantêm toda a sua restante actividade durante o período normal de trabalho diário e semanal”.
De acordo com o pré-aviso de greve, esta forma de protesto foi decidida porque os médicos não aceitam, entre outras coisas, “que a remuneração das horas extraordinárias seja alterada unilateralmente por proposta do Governo e voto maioritário da Assembleia da República na lei do Orçamento do Estado para 2012”.
Ao fazê-lo, o Governo rompeu “a contratação colectiva em vigor”, mas ousou “exigir a efectivação de horas extraordinárias em números superiores aos limites legais e comunitários, acrescendo penosidade para os médicos e perigosidade para os doentes”.
Os médicos “jamais aceitarão que medidas do Orçamento do Estado tenham como únicos destinatários os trabalhadores médicos, ousando uma perseguição direta e sem precedentes, hostilizando toda uma classe que suporta com estoicismo o único serviço público português que se compara internacionalmente, o SNS”, ainda segundo o pré-aviso.
Fonte: Diário de Notícias, 21 de Dezembro de 2011