Bastonário dos médicos diz que Governo corta mais na saúde do que troika propôs, o que é “inaceitável”.
O Governo quer poupar até 85 milhões de euros por ano no primeiro pacote de cortes conhecido para o sector. Depois das reduções de 10 por cento no trabalho extraordinário, da diminuição dos valores máximos a pagar aos médicos “tarefeiros” e da obrigatoriedade de os hospitais fazerem mais exames e análises (anunciados por despacho), confirma-se que há novas descidas administrativas dos preços (12,5 por cento) na hemodiálise e imagiologia, a partir de Setembro. E estão em preparação medidas semelhantes para as análises clínicas.
Os cortes com um impacto financeiro bem mais substancial (nas áreas do medicamento e da gestão hospitalar) vêm a seguir.
As reacções de repúdio não se fizeram esperar. Notando que as urgências (serviços mais consumidores de horas extraordinárias) “já estão no limite”, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, defende que um novo corte no trabalho extraordinário vai ter reflexos no atendimento dos doentes. E avisa: se os hospitais não cumprirem os critérios definidos para as equipas das urgências, a ordem denunciará publicamente este “desrespeito pelos limites mínimos de segurança”.
“O Governo está a querer poupar mais na saúde do que a troika preconiza, o que é inaceitável. Quer ir buscar à saúde para tapar buracos noutros sectores”, reage. A propósito da redução do valor máximo a pagar aos “tarefeiros” de 35 para 30 euros/hora, pergunta, provocatório, por que razão é que o Governo “não regula também o mercado combustível e desce o preço dos combustíveis”.
Aos cortes no trabalho extra juntam-se as poupanças obtidas com a redução de exames de diagnóstico nos privados e as reduções nos preços. Na sexta-feira passada, os responsáveis das associações de hemodiálise e de imagiologia foram informados de que estes iam descer 12,5 por cento, no global, a partir de Setembro.
Armando Santos, presidente da Associação Nacional de Unidades de Diagnóstico pela Imagem, teme o desemprego num sector que emprega 10 mil pessoas e no qual, entre 2009 e 2010, a despesa “já baixou de 150 milhões para 143 milhões de euros”. Também António Taveira, presidente da Associação Portuguesa de Laboratórios, apesar de ainda não ter sido informado de qualquer descida dos preços das análises, antevê desemprego para metade dos “entre 15 mil a 20 mil trabalhadores” do sector. Taveira defende que “é mais caro” fazer exames nos hospitais públicos.
Fonte: Público, 20 de Agosto de 2011