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Controlar terapêutica de doentes VIH/sida poupa 43 mil em internamentos

Doentes em falência terapêutica foram acompanhados durante dois anos e meio por projecto Hospital na Comunidade.

O acompanhamento, na comunidade, de pessoas infectadas com VIH/sida que não tomam devidamente a medicação evita muitos internamentos e idas à urgência hospitalar. Mesmo assim, será que o investimento compensa? De acordo com um estudo de custo-benefício supervisionado pelo especialista em economia da saúde Pedro Pita Barros, a resposta é não, se se considerar apenas a poupança nestes custos directos (pouco mais de 43 mil euros). Mas, avisa o especialista, é preciso levar em conta outros benefícios não avaliados, nomeadamente em termos de “qualidade de vida”.

Esta questão vai estar hoje em debate no Hospital de Loures. No encontro sobre os “Desafios para o Acesso e Adesão à Terapêutica Antiretroviral” vão ser apresentados os resultados do projecto Hospital na Comunidade que envolveu perto de duas centenas de pessoas em situação de falência medicamentosa e em início de terapêutica e foi levado a cabo pela Ajpas (Associação de Intervenção Comunitária, Desenvolvimento Social e de Saúde) em parceria com o hospital de Amadora-Sintra.

Foi um projecto fora do comum. Durante dois anos e meio, especialistas do Hospital da Comunidade ajudaram a distribuir fármacos e a controlar a toma da medicação de 99 doentes em situação de falência  terapêutica e de 70 novos pacientes do hospital de Amadora-Sintra.

Os resultados foram muito positivos, considera Emília Carreiras, a presidente da Ajpas: 95% dos doentes que apresentavam um historial de falência terapêutica, porque não tomavam ou tomavam mal a medicação, alteraram o seu comportamento. “Em casa de algumas pessoas havia caixas e caixas de medicação [por tomar]”, descreve.

No conjunto dos 70 doentes em início de terapêutica, o sucesso do acompanhamento também foi evidente: no final do projecto, 94% estavam a tomar os fármacos de forma adequada. Este resultado é muito importante, explica a presidente da Ajpas, porque quando uma pessoa infectada não segue a terapêutica “o organismo vai criando resistências e a carga viral dispara” e, quando isso acontece, torna-se necessário passar para um esquema terapêutico mais caro.

Outra vantagem destacada passa pela redução dos internamentos hospitalares, calculada em “menos 75%”.

Contra as expectativas dos responsáveis do projecto, porém, a avaliação custo-benefício supervisionada por Pita Barros concluiu que a poupança com internamentos evitados foi de apenas 43 mil euros, e, com idas à urgência, de uns meros 324 euros. “Este valor não é directamente comparável com o custo total do projecto [cerca de 443  euros euros], uma vez que grande parte dos benefícios a nível da adesão terapêutica e dos custos evitados devido aos efeitos da progressão da doença não foram contabilizados em termos monetários”, refere o estudo.

Nas conclusões sublinha-se, de qualquer forma, que os resultados apresentados “apontam para o sucesso do projecto”. “Encontrou-se evidência de que o acompanhamento recebido” fez “cair drasticamente os níveis de carga viral”, exemplifica.

“A nossa mensagem principal é que não será pelos custos evitáveis [em termos de internamentos e idas à urgência] que este tipo de projecto poderá valer a pena. Agora, pode valer a pena por outro tipo de benefícios”, sustenta Pita Barros. “Tudo o que tem a ver com qualidade de vida” não foi contabilizado, exemplifica. “Qual é o valor de um doente se sentir menos discriminado por não ter que ir buscar os medicamentos ao hospital?”, pergunta. Há que procurar e ponderar outros benefícios, propõe.

Fonte: Público, 9 de Janeiro de 2014

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