A Direção da Sociedade Portuguesa de Gestão de Saúde (SPGS), preocupada pela abordagem significativa que tem tido sobre quando as pessoas serão vacinadas e pela reação negativa das mesmas quando lhes é indicada uma data com base no simulador do SNS/DGS, sente-se obrigada a alertar a população portuguesa do seguinte:
1. O primeiro lote de vacinas que chegou a Portugal antes do fim do ano foi apenas um ato simbólico que visou mostrar uma luz de esperança aos europeus e ao mundo;
2. O aparato que envolveu a chegada das primeiras pequenas quantidades de vacinas e a filmagem em direto das inoculações com muitas pessoas não ligadas diretamente à vacinação em si, para além do aparato policial na segurança do seu transporte com dezenas de pessoas armadas de metralhadoras e outros engenhos de guerra, poderá ter potenciado a ideia de que a vacinação e o fim da pandemia estaria já ao virar da esquina, o que não é verdade;
3. A escolha preferencial de profissionais de saúde de apenas alguns hospitais centrais para as primeiras vacinações terá sido uma estratégia do Ministério da Saúde para criar na comunidade uma dose razoável de confiança na vacinação e nunca um prémio pelo trabalho de profissionais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) na luta contra o covid-19;
4. A decisão de quem vacinar em primeiro lugar é exclusivamente da competência do Ministério da Saúde ouvida a Direção Geral de Saúde assim como a logística da sua distribuição através de uma equipa escolhida pelo Governo;
5. A quantidade de vacinas a chegar a Portugal tem vários imponderáveis e ninguém poderá garantir o número e o momento exato da chegada das mesmas;
6. A decisão de vacinar em primeiro lugar os profissionais de saúde poderá dar a oportunidade de um funcionamento a 100% de todas as unidades de saúde do SNS já no fim deste mês com o benefício essencial de se recuperar parcial mas rapidamente aquilo que se perdeu em 2020 de milhares de consultas, exames e cirurgias que deveriam ter sido efetuadas;
7. Alertamos a população portuguesa que nada mudou neste momento para melhor no controlo da pandemia e os números de janeiro de infetados e mortes poderão continuar a ser muito elevados sendo que todos devem continuar o seu esforço de contenção e cuidados de acordo com as regras já conhecidas;
8. Por fim informar a população portuguesa de que, embora a vacinação se inicie no concreto no decorrer deste mês, os efeitos benéficos da mesma não se sentirão na comunidade seguramente antes do outono na melhor das hipóteses. E terminamos com um exemplo concreto de quando uma pessoa de alto risco poderá ser vacinada imaginando que todo este processo decorrerá sem falhas: uma pessoa de 85 anos que não tenha aparentemente nenhuma doença grave só deverá ser vacinada em abril ou maio deste ano se as regras atuais forem mantidas. Se a pessoa tiver 55 anos ainda nem sequer tem data provável sendo que a sua vacinação poderá acontecer por cálculo simples lá para junho/julho ou até mais tarde.
ESTAMOS COM UMA LUZ AO FUNDO DE UM TÚNEL PORVENTURA AINDA MUITO LONGO DE PERCORRER. Há que manter a guarda, ter uma esperança real num desfecho eventualmente positivo mas fazer de tudo para equilibrarmos a saúde física e MENTAL da população em geral com destaque para os que mais sofrem com a pandemia: os nossos idosos a quem devemos o que hoje somos e temos.
Miguel Sousa Neves
Presidente da direção da Sociedade Portuguesa de Gestão de Saúde
2 de janeiro de 2021
“os efeitos benéficos da mesma não se sentirão na comunidade seguramente antes do outono na melhor das hipóteses”
*seguramente* ? Uma afirmação pessimista cujo fundamento não é explicado. Se o plano de vacinação decorrer como previsto, é previsivel que estejam 20 a 30% dos portugueses protegidos antes do fim de Abril (>10% infectados naturalmente + 10-15% por vacinação). Com isto, haverá impacto significativo nas hospitalizações, atendendo à priorização dos vacinados: idosos em ERPIs e com patologia de base. Portanto muito antes do Outono.
No fim do 2º trimestre terá um acréscimo de 15 a 20% de imunizados (vacinação e infecção natural). No início do verão, o valor do R-efectivo da infecção baixa, como em todas as doenças respiratórias e como se viu no verão passado. Poderemos estar já próximo dos valores de turning-point que tornam a propagação não sustentada (imunidade de grupo, Rt <1 permamentemente). Vai ter surtos, mas com cadeias curtas e mais fáceis de travar. Não me parece irrealista visualizar esta situação 1 a 2 meses antes do Outono.