Este barómetro retoma a notícia da semana passada do JN quanto aos primeiros lugares nacionais do Hospital de São João e Santo António nos rankings da Administração Central dos Serviços de Saúde. Ora, o que significa isto?
Isabel Vaz, que é gestora do Grupo Espírito Santo Saúde, responde assim à pergunta 2: “Desde logo, parece ser evidente a qualidade das equipas de gestão destes hospitais. Suspeito também que a menor proximidade ao poder central as ajuda a privilegiar as decisões técnicas versus outro tipo de interesses. A pergunta que não resisto fazer é: o que faria ainda o dr. António Ferreira se pudesse também usar instrumentos típicos da gestão privada, como incentivar os melhores e ver-se livre de quem não trabalha?”. Olhando para tudo o que se diz sobre os impossíveis cortes no Orçamento do Estado, dá que pensar.
[perguntas]
[1] O Orçamento do Estado corta mais 300 milhões na Saúde (3,9%). É aceitável face à austeridade geral?
[2] Segundo a plataforma comparativa da Administração Central dos Serviços de Saúde, os dois hospitais públicos mais bem geridos são o São João e o Santo António. Há alguma razão para esta concentração no Norte?
António Ferreira, presidente do conselho de administração do Hospital de S.João
[1] O Segundo a ACSS, considerando os hospitais do grupo. E, se todos, em particular os da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, alinhassem os custos operacionais unitários pelo mais eficiente do grupo, a poupança anual seria de 250 007 366 euro (repetindo resultados de anos anteriores). Assim, parece que é possível encaixar esta redução. Mas ela deve ser seletivamente aplicada em função dos dados referidos.
[2] Há. As pessoas e a cultura institucional e regional.
Isabel Vaz, presidente da Comissão Executido da Espírito Santo Saúde
[1] Segundo a ACSS, se os três hospitais centrais de Lisboa atingissem os níveis de eficiência do S. João, o potencial de poupança seria da ordem dos 100 milhões! Dá que pensar… E se um estudo semelhante também se fizesse nos cuidados primários? Finalmente, se o Estado concessionasse mais hospitais a operadores privados, obviamente com concurso e contratos semelhantes aos dos hospitais em PPP, as poupanças seriam da ordem dos 20-25 %, sem nunca pôr em causa o serviço público.
[2] Desde logo, parece ser evidente a qualidade das equipas de gestão destes hospitais. Suspeito também que a menor proximidade ao poder central as ajuda a privilegiar as decisões técnicas versus outro tipo de interesses. A pergunta que não resisto fazer é: o que faria ainda o dr. António Ferreira se pudesse também usar instrumentos típicos da gestão privada, como incentivar os melhores e ver-se livre de quem não trabalha?
Manuel Antunes, cirurgião toráxico e professor da Universidade de Coimbra
[1] O que é aceitável, hoje? Se não há, não há…, e já lá vão mais de 2 mil milhões em cortes. Mas tem de se assumir com frontalidade que não é possível fazer omeletes sem ovos! A responsabilidade não pode cair sobre os profissionais.
[2] Conhecendo os respetivos “administradores-mor”, não me surpreende, mas estes métodos de medição são pouco definidos e, frequentemente, muito subjetivos. De resto, parece-me que a conotação geográfica é meramente circunstancial.
Maurício Barbosa, bastonário da Ordem dos Farmacêuticos e prof. da Fac. Farm. Univ. Porto
[1] A saúde contribuiu muito acima do previsto para a redução da despesa pública. Em relação ao PIB, já é uma das mais baixas da UE. Nos últimos três anos, a redução da despesa com medicamentos em ambulatório ascende a mais de 600 milhões de euros (71,1% da redução da despesa no SNS). Seria uma enormidade caso se insistisse em reduzir mais à custa dos medicamentos dispensados em ambulatório, nas farmácias.
[2] Os custos por doente são, de facto, mais reduzidos nesses hospitais. Mas para além do plano económico-financeiro, ainda que importantíssimo, há que considerar igualmente outros parâmetros, não menos importantes, como acesso, qualidade e produtividade. O que ressalta especialmente da plataforma é o esforço de melhoria das administrações hospitalares nos diferentes planos.
Nuno Sousa, diretor do curso de Medicina da Universidade do Minho
[1] Não porque são cortes sobre cortes, numa área em que o não investimento sairá muito caro.
[2] Muito poucas coisas na vida são por acaso, embora acredite que há hospitais bem geridos noutros locais do país.
Paulo Mendo, antigo ministro da Saúde
[1] Não é aceitável. Os cortes são impostos pela UE e respetiva troika , com uma visão de “Homem do fraque” a cobrar dívidas que os políticos, medrosos e incapazes, são incapazes de contrariar, ou, pelo menos, executar sob protesto.
[2] Era quase uma tradição nacional a melhor administração, melhor serviço e menores custos dos hospitais nortenhos quando comparados com os hospitais de Lisboa de igual categoria. Se a tradição foi recuperada é necessário que se tornem exemplo.
Purificação Tavares, médica geneticista, CEO CGC Genetics
[1] Depende: se este corte diminuir a qualidade da prestação da assistência aos doentes, não. Mas se for resultado de uma poupança que resulte na melhor gestão de recursos, sem impacto na assistência (que é bem possível), é a favor do país.
[2] Isso é mérito dos seus PCA, prof. António Ferreira e dr. Fernando Sollari Allegro, e das suas equipas, que felicito sinceramente!
Fonte: Jornal de Notícias, 19 de Outubro de 2013