Hipertensão e atividade cardíaca avaliadas sem ser preciso ir ao hospital. Unidades de AVC, com quebra da procura, vão ter reforço
Os centros de saúde vão começar a fazer exames na área da cardiologia, entre os quais eletrocardiogramas, que depois serão analisados pelos especialistas nos hospitais. Estes exames serão realizados para já num agrupamento de centros de saúde (ACES) em Lisboa, em articulação com o Hospital de Santa Marta. O secretário de Estado adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, anunciou que o projeto-piloto vai arrancar no primeiro semestre. Na área do AVC, avançou um reforço das unidades, nomeadamente com mais camas, e uma reorganização do seu funcionamento.
Entre os exames previstos estão o eletrocardiograma, mas também o Holter (que no fundo é um eletrocardiograma feito num período de 24 a 48 horas) e o MAPA (que durante este mesmo período mede a pressão arterial em intervalos curtos), que, por exemplo, em dezembro tinham um tempo de espera de 103 e 253 dias, respetivamente, no Centro Hospitalar de Lisboa Central, que engloba os hospitais de São José e Santa Marta. No futuro, as leituras dos exames serão feitas no hospital e um eventual problema será “identificado de forma mais célere”, diz o secretário de Estado. Além do hospital, falta saber qual será o ACES abrangido nesta fase, mas será da área de Santa Marta.
Durante a apresentação do relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) “Portugal – doenças cerebrocardiovasculares em números 2015”, Fernando Araújo destacou a importância deste tipo de cuidados nos centros de saúde. “Tem de haver apoio especializado da cardiologia, que irá dar maior acesso e reduzir a despesa, a resposta é rápida e há menos idas ao hospital.”
Rui Ferreira, diretor do programa nacional para as doenças cerebrocardiovasculares, refere que o modelo está em estudo, mas “o objetivo é que cardiologistas ou cardio-pneumologistas se desloquem aos centros de saúde para fazer os exames. Com recurso a tecnologias, os médicos do hospital irão analisar os resultados”. Uma fonte do Hospital de Santa Marta frisa que depois os médicos selecionam os casos que necessitam de observação e intervenção. “É uma espécie de telemonitorização, que sai mais barata, é mais segura e organiza critérios de risco e os tempos.”
Fernando Araújo destacou que a mortalidade no AVC e no enfarte caiu “de forma significativa”. Em 2013, Portugal teve uma taxa de mortalidade de 152,32 por cem mil, abaixo dos 207,97 da União Europeia. As doenças do aparelho circulatório tiveram uma redução de 15,6% em apenas cinco anos.
“Portugal é o sétimo país europeu com menor mortalidade. No enfarte agudo do miocárdio temos metade da mortalidade da média europeia.” Só a Eslovénia, Croácia, Polónia, França e Alemanha têm níveis inferiores. Já no AVC, apesar da quebra de 24% em cinco anos da taxa de mortalidade, ainda há 18 países com melhores resultados. Os últimos dados disponíveis mostram mesmo que houve menos doentes a chegar às unidades pelo programa das vias verdes e grandes assimetrias regionais, destacando-se com piores resultados Lisboa e Vale do Tejo. É através dele que os doentes são encaminhados para as unidades mais adequadas ao tratamento e num tempo curto.
“O INEM reduziu o impacto no ano passado. Temos de voltar a apostar no transporte pelo INEM”, afirmou Fernando Araújo, esclarecendo que esta “diminuição” se deveu à falta de informação e formação da população e que é preciso dar informação para que os doentes não percam tempo e liguem logo o 112 assim que tenham sintomas. Quanto à rede atual, garante que tem as unidades necessárias.
Fonte: diário de Notícias, 26 de fevereiro de 2016