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Bastonários denunciam falta de material clínico e temem efeitos dos cortes

Os bastonários das ordens dos médicos e dos enfermeiros denunciaram hoje que falta material clínico e medicação nas unidades de saúde e temem que os cortes orçamentais possam agravar a situação.

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Maria Augusta de Sousa, disse que já abriu um espaço no site da ordem para os profissionais denunciarem casos concretos e o bastonário da Ordem dos Médicos pretende fazer a mesma solicitação à classe “se os problemas não forem resolvidos”.

Um caso concreto ocorreu na semana passada, no Nordeste Transmontano, no Centro de Saúde de Freixo de Espada à Cinta, que não tinha morfina para assistir um doente urgente que teve de aguardar pelo helicóptero do INEM.

Segundo fonte ligada ao socorro, a situação foi registada “no dia 18 de Novembro à hora de almoço e o centro de saúde ainda pediu o medicamento emprestado à única farmácia privada da vila, mas ela também não tinha”.

A Administração Regional de Saúde do Norte confirmou a ruptura de stock de morfina na unidade de saúde, alegando que “foi uma situação ocasional” que “já está normalizada”. Segundo a fonte, esta unidade de saúde é dotada anualmente com “cinco unidades de morfina em função da média de necessidades e não tem havido necessidade de aumentar”. De acordo ainda com a fonte, “até à semana passada só tinham sido gastas três”, mas surgiram outros tantos doentes a necessitar do medicamento e não só se esgotou o stockcomo já não havia morfina para o último.

A morfina é usada em situações de “dor aguda, traumatismo ou edema agudo do pulmão”, como explicou o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, que critica o que considera “uma gestão completamente errada dos stocks”. Para o bastonário, “a gestão não se pode fazer por médias” e “só quem não entende o que é uma média aritmética é que pode gerir dessa forma primária”. “É evidente que há situações em que a morfina é essencial e portanto não estar disponível em situações de necessidade é inadmissível, é preciso perceber porque é que aconteceu e têm que ser atribuídas responsabilidades a quem efectivamente não providenciou essa disponibilidade atempadamente”, defendeu.

O bastonário adiantou que os médicos “cada vez sentem mais dificuldades” como “problemas de acesso a material”, que “a não serem resolvidas” obrigarão a uma intervenção junto do Ministério da Saúde. De acordo com o bastonário, “os problemas de acesso a material médico obrigam a um esforço imenso para que não afecte a prestação de cuidados e não prejudique os doentes, mas a manterem-se os cortes [previstos] será impossível evitar”.

José Manuel Silva alerta que “basta atentar no anúncio público de que a Roche iria suspender o fornecimento de alguns medicamentos a alguns hospitais, medicamentos que são essenciais e não têm substituto”. “Se não houver um olhar diferente para a saúde, o que se encontra absolutamente no limite, os doentes irão começar a ser objectivamente prejudicados”, acrescentou.

Também a bastonária da Ordem dos Enfermeiros entende que “a actual situação [do país] pode conduzir ao agravamento destas situações” e já abriu um espaço para os enfermeiros apontarem situações para melhor fundamentar a intervenção que pretende fazer junto do Ministério da Saúde e dos grupos parlamentares.

Para a bastonária, estes problemas podem ter a ver “com aspectos da área da gestão dos recursos existentes, mas também poderão ter a ver com eventuais cortes que estão anunciados e que terão seguramente implicações para a segurança e qualidade dos cuidados”. A bastonária ressalva, no entanto que os problemas de escassez de medicamentos e material de uso clínico não são de agora. “Em todo o país há picos destas situações, a nossa grande preocupação é se isto deixa de ser picos para passar a ser a realidade permanente”, afirmou.

Fonte: Público, 24 de Novembro de 2011

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