O presidente da Associação Nacional de Laboratórios denunciou, esta quarta-feira, atrasos na obtenção de exames realizados nos hospitais e centros de saúde que estarão a ter “consequências gravíssimas” na saúde dos utentes que são diagnosticados tardiamente.
“O atraso no diagnóstico tem consequências gravíssimas. Já há casos — nomeadamente na Guarda e em Portalegre — em que devido a um diagnóstico feito tardiamente o doente tem de ser internado no momento em que é diagnosticado, o que tem custos mais elevados para o utente e o Estado”, disse António Taveira.
Em entrevista à Agência Lusa, o presidente da Associação Nacional de Laboratórios (ANL) responsabiliza o Governo por esta situação devido ao despacho que determinou que “os hospitais que integram o Serviço Nacional de Saúde (SNS) devem assegurar a realização dos Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica (MCDT) necessários aos seus utentes como regra”.
“Há um prejuízo objetivo e claro para os utentes do SNS que antigamente tinham 80 a 90 por cento dos resultados disponíveis em 24 horas, ou no limite em 36, e agora têm tempos de espera para as colheitas e análises e para a obtenção dos resultados, além de péssimos serviços nos hospitais e centros de saúde”, adiantou.
António Taveira considera que ninguém lucrou com esta determinação de realizar nas instituições do SNS estes exames e não nos convencionados como até 2011 e garante mesmo que o Ministério da Saúde paga hoje uma fatura mais elevada pelos mesmos.
“O que é irónico é que o Estado não ganha nada com isso. Pelo contrário, a despesa pública é maior quando as análises são feitas nos hospitais e centros de saúde, além de serem feitas em piores condições e com pior qualidade”, alega.
O dirigente associativo diz-se preocupado com as consequências desta medida na saúde dos portugueses, lembrando que os MCDT são “um elemento indispensável nos cuidados de saúde primários, porque são o elemento informativo que vai permitir ao médico prescritor assinar o diagnóstico e as terapêuticas”.
“Quanto mais atempadamente for feito o diagnóstico, mais benignos serão os meios com que a doença vai ser atacada e mais célere e adequada será a sua atuação”, disse.
Nos casos em que a demora nos exames se traduz em atrasos no diagnóstico, será o próprio doente e até o Estado a pagar mais, adiantou.
António Taveira chama ainda a atenção para as maiores deslocações que os utentes têm agora de fazer aos hospitais.
“A maior rede de prestadores de cuidados de saúde primários em Portugal é a dos laboratórios clínicos. Estamos praticamente em todos os aglomerados populacionais relevantes”.
O presidente da ANL diz que não passa uma semana sem que a esta associação chegue uma queixa ou uma denúncia de um utente ou familiar a lamentar a alteração no acesso aos MCDT.
“Nunca recebemos tantas cartas de utentes, dando conta de mau tratamento, de desprezo e de desleixo”, frisou.
Ao nível dos efeitos nas empresas, António Taveira diz que os mesmos são “catastróficos” e que existem distritos em que praticamente todos fecharam portas.
Logo após a publicação do despacho, o Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos recomendou a sua suspensão, alegando que este estava a provocar “adiamentos inaceitáveis no estudo dos doentes”.
Fonte: Jornal de Notícias, 20 de Junho de 2012