Um comunicado da Sociedade Portuguesa de Gestão de Saúde com base numa avaliação dos números da pandemia dos últimos meses e os riscos-benefícios das medidas atuais
Há precisamente 1 ano atrás, fomos os únicos a prever e informar a população em geral que, contrariamente às expectativas irreais que foram sendo passadas com o aparecimento das 1as vacinas em Portugal, uma possível imunidade de grupo (isto é, um previsível alívio da situação pandémica) só iria acontecer , na melhor das hipóteses neste outono passado. Infelizmente os nossos estudos vieram a confirmar que tínhamos razão.
Hoje em dia, e felizmente, estamos numa situação muito diferente com um controlo muito melhorado pela vacinação maciça da população portuguesa e uma adesão às medidas de distanciamento social e uso de máscaras que foram sendo introduzidas, ainda que de uma forma pouco consistente na comunidade.
Temos hoje 914 doentes internados perspetivando-se um aumento dos mesmos nas próximas semanas, a que se somarão os aumentos de internamentos pelos síndromas gripais habituais no inverno. No entanto, embora tenha havido um número crescente de internamentos em Unidades de Cuidados Intensivos ao longo dos últimos tempos (150 hoje, quanto destes serão pessoas não vacinadas?), imaginamos que neste caso os aumentos não serão muito significativos nem colocarão em causa as nossas capacidades no SNS.
Relembramos, no entanto, que há 105.614 casos registados como ativos , o que indicia um agravamento provável da situação com alguma disrupção relevante nas cadeias de trabalho e mesmo no seio das famílias, escolas e na situação dos lares de idosos.
É então essencial que mantenhamos A MÁSCARA SEMPRE QUE POSSÍVEL (e as mudemos frequentemente para manter a sua eficácia), o DISTANCIAMENTO SOCIAL necessário e uma TESTAGEM CONTÍNUA embora, por vezes, muito incomodativa. A lavagem frequente das mãos é um hábito que deve ser mantido assim como a utilização de gel alcoólico apropriado sempre que estamos em áreas diferentes.
A 3ª dose da vacinação é útil e devem continuar a aderir tal como nas vezes anteriores.
No que respeita à vacinação das crianças, temos uma opinião dividida pois que, para as crianças pequenas saudáveis a vacinação não trará benefícios acrescidos num estudo de risco-efetividade. No entanto, vivemos em comunidade e se pudermos aceitar a vacinação dos mais pequenos, não teremos nada a perder e ganharemos um pouco mais no controlo da disseminação da doença embora as vacinas não estejam completamente atualizadas para as variantes dominantes no momento.
Por último há que pensar na PANDEMIA como algo que vai perdurar de uma forma mais intensa nos próximos 2 meses e depois irá melhorar progressivamente perspetivando-se que no Verão teremos melhores vacinas e medicação mais eficaz para o tratamento dos doentes sintomáticos. Lembramos também que vivemos num mundo de contacto fácil e, enquanto na Europa vamos na 3ª dose, em África menos de 10% das pessoas terão tido as 1as doses!
O vírus NÃO IRÁ DESAPARECER e o aparecimento de variantes é comum a quase todo o tipo de vírus pelo que esses acontecimentos apenas devem preocupar a comunidade científica nos seus trabalhos de melhoria da qualidade das vacinas e nas possíveis terapêuticas a serem criadas.
Vamos todos tentar – com os aconselhamentos possíveis mas sem histeria – enfrentar os próximos meses utilizando a melhor dose de bom senso possível para não acrescentarmos mais problemas à nossa saúde mental que muito tem sofrido como tudo isto.
Desejamos que todos tenham um ano mais tranquilo e tudo aponta para uma maior tranquilidade daqui a uns meses.
Miguel Sousa Neves
Mestre em Gestão de Serviços de Saúde e Presidente da Sociedade Portuguesa de Gestão de Saúde
27 de dezembro de 2021