A presidente da Associação de Farmácias Portuguesas (AFP) considera que se fossem seguidas as recomendações de baixar as margens de lucro e liberalizar a abertura de novos estabelecimentos muitas farmácias iriam encerrar.
“Muitas farmácias teriam que encerrar ou o Estado tinha que tomar conta delas”, afirmou Helena Castro Machado à agência Lusa numa reacção a um relatório do Tribunal de Contas (TC) revelado na terça-feira.
Após uma auditoria ao Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde – e ao funcionamento do mercado do medicamento, o TC conclui que, apesar de se ter registado uma redução da rentabilidade das farmácias entre 2006 e 2009, neste ano aqueles estabelecimentos apresentaram uma rentabilidade de 13 por cento, enquanto o sector retalhista total (com excepção do comércio de automóveis) se ficava pelos cinco por cento.
O documento a que a Lusa teve acesso considera ainda que a liberalização da abertura de farmácias – actualmente a lei restringe a instalação de novos balcões de venda de medicamentos – aumentaria a cobertura em 68 por cento dos concelhos do país e só reduziria em três por cento dos municípios.
Uma farmácia “dá lucro como qualquer microempresa”, mas “também tem muitas despesas”, disse a responsável da AFP, associação que representa cerca de 140 das mais de 2700 existentes no país.
“As margens de lucro não podem ser vistas linearmente. Tem que se ver como um bolo”, defendeu, acrescentando que os atrasos no pagamento das comparticipações de medicamentos pelo Estado estão a deixar muitas farmácias em dificuldades financeiras.
A Lusa tentou insistentemente obter um comentário da maior associação do sector, a Associação Nacional de Farmácias, mas o seu presidente não atendeu os pedidos telefónicos, o mesmo sucedendo com a sua assessoria.
Helena Machado escusou-se a comentar a hipótese de acabar com as restrições à abertura de novas farmácias, dizendo que a sua associação não tem uma posição sobre a matéria, mas admitiu que possa haver uma má distribuição geográfica das que existem.
“A nível nacional, temos uma boa cobertura, podem é estar mal distribuídas”, afirmou, referindo que a alteração da lei levou a que fossem “encerradas farmácias centenárias” em meios urbanos mais pequenas e transferidas para vilas e cidades.
Fonte: Público, 24 de Agosto de 2011