Semanas antes das primeiras notícias sobre a anormal espera nas urgências, um estudo realizado pela consultora multinacional de origem espanhola IASIST já colocava o dedo na ferida: entre 60% a 75% dos doentes internados nos hospitais do SNS chegam às unidades através das urgências, quando as doenças já estão bastante descompensadas – o que é atribuído à dificuldade de acesso aos cuidados de saúde primários e à falta de planeamento, que acaba por entupir estes serviços.
Ao mesmo tempo, os dados nacionais apontam para que mais de 40% dos casos atendidos sejam de “falsas urgências”, isto é, doentes que poderiam ter sido seguidos, por exemplo, nos cuidados de saúde primários. O relatório “Roteiro de Intervenção em Cuidados de Emergência e Urgência”, apresentado por Luís Campos no final de 2014, indica que “o recurso às urgências hospitalares em Portugal continua a ser excessivo, mesmo comparando com outros países europeus: considerando que a estimativa para a população portuguesa em 2012 era de 10.487.289 habitantes, temos 696 admissões na urgência por mil habitantes, em 2012. Em Inglaterra, nesse mesmo ano, foram atendidos 18,3 milhões de doentes nos serviços de urgência, o que significa 345 admissões por 1000 habitantes”.
De acordo com a análise de Luís Campos, no primeiro semestre de 2014, em 41,8% dos casos de episódios de urgência os doentes receberam pulseiras verdes, azuis ou brancas. Quando a assimetrias regionais, o relatório destaca uma “grande variabilidade”, com o máximo a ser atingido na zona abrangida pela Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo e o mínimo na ARS do Algarve. Números que vão ao encontro dos dados avançados em 2010 pela Comissão de Reavaliação da Rede Nacional de Emergência/Urgência, que já nessa altura apontava para que apenas 54% dos casos atendidos fossem catalogados como urgentes, muito urgentes ou emergentes, o que corresponde às pulseiras vermelhas, laranjas e amarelas.
Fonte: Público, 7 de janeiro de 2014