O distrito de Bragança perdeu a primeira e única oncologista e tem cada vez mais dificuldades em contratar e fixar médicos, denunciou esta terça-feira o presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste.
António Marçôa afirmou, num balanço dos últimos dois anos de atividade da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE), que rescindiu o contrato a primeira oncologista que tinha conseguido contratar e que fazia parte dos “menos de dez” especialistas que se candidataram às quase 60 vagas abertas nos últimos dois anos.
A falta de médicos especialistas sempre foi um dos males da Saúde nesta região e o administrador defendeu que se agravou agora com a tabelação salarial que faz com que um médico ganhe o mesmo no interior ou no litoral.
O presidente da ULSNE aceita que “seja tabelado, mas só será correto se houver também uma política de tentativa de fixação dos novos licenciados no interior”.
A solução que aponta é a diminuição de vagas no litoral e aumentar o número no interior, além de “as contas serem feitas tendo em atenção” as especificidades.
“Se fizerem só contas relativamente ao número de habitantes, o interior vai ficar sempre penalizado”, apontou.
A falta de especialidades em Bragança obriga os doentes a grandes deslocações, nomeadamente ao Porto, o que a administração da ULSNE assegurou ser seu “principal objetivo” combater.
Nos últimos dois anos, a jovem oncologista Fernanda Estevinho ajudou a evitar algumas dessas deslocações com tratamentos em Macedo de Cavaleiros, nomeadamente de quimioterapia.
Apesar de ser natural da região, aconteceu com esta médica o mesmo, segundo o administrador, que com outros que são de fora e que passado algum tempo acabam por ir embora.
António Marçôa adiantou, no entanto que a ULSNE vai continuar a apoiar em Macedo de Cavaleiros, “pelo menos aos doentes que estavam em tratamento” com um reforço do contrato de prestação de serviços que já tinha e manteve com um oncologista de Vila Nova de Gaia.
A ULSNE anunciou que pediu também “algum apoio” ao Centro Hospital de Trás-os-Montes, enquanto não consegue a admissão de um novo oncologista.
De acordo com administração, com a exceção de Pediatria e Cirurgia, todas as especialidades têm carências nesta região, com “uma gritante falta de profissionais” em ginecologia, obstétrica e nefrologia. “Corremos o risco de rutura”, admitiu o responsável.
Apesar das dificuldades, a entidade que gere os três hospitais e 14 centros de saúde do Distrito de Bragança conseguiu nos últimos dois anos aumentar respostas e diminuir tempos de espera.
De acordo com os dados divulgados esta terça-feira, o tempo de espera médio por uma consulta foi reduzido de 83 dias, em 2011, para 51 dias, em 2013, com 88 por cento dos utentes “atendidos em tempo adequado”.
O Nordeste Transmontano supera a médias da região Norte no acesso a cirurgia, segunda ainda o balanço, passando de 146 dias de espera, em 2011, para 78 em 2013, com 98% dos utentes “atendidos em tempo adequado”.
Nos cuidados primários a ULSNE garante que 98% dos cerca de 140 mil utentes do Nordeste Transmontano têm médico de família.
Fonte: Jornal de Notícias, 22 de Julho de 2014