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Cuidados primários continuam sem ser prioridade

O Observatório Português de Saúde lamenta que os Cuidados de Saúde Primários continuem a não ser prioridade, apesar de terem um papel determinante em momentos de crise e de o Governo afirmar sistematicamente que são uma área a privilegiar.

No Relatório de Primavera 2014, intitulado ” Saúde — Síndroma de Negação” e que será hoje apresentado, o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) aponta o dedo aos cuidados de saúde primários (CSP) como um dos casos mais evidentes do “estado de negação” e de “silêncio” do Governo face aos efeitos da crise e à falta de investimento na saúde.

Lembrando que este é um dos temas que “vêm sendo apontados como problemáticos” há mais de dez anos, o OPSS considera que o ministério não lhe tem dado a devida prioridade.

O relatório refere que os CSP são “sistematicamente referidos no discurso político como a área a privilegiar”, para além do “papel determinante” que podem assumir em momentos de crise, como o atual.

“No entanto, a prática política sugere-nos que os CSP não se têm constituído como prioridade”, acusa o observatório, frisando que apesar de “algumas evoluções positivas”, persistem problemas que dificultam a prestação de cuidados de saúde ao utente.

Como aspetos positivos, o relatório destaca a criação e aprovação do perfil profissional do enfermeiro de família, a abertura de vagas para o internato de medicina geral e familiar e a abertura de algumas Unidades de Saúde Familiar (USF) novas.

No entanto, prevalecem dificuldades no dia-a-dia dos profissionais que “dificultam muito” a prestação de cuidados, como um sistema de informação deficiente, a falta de recursos humanos e a fragilidade de algumas unidades funcionais, sublinha.

O observatório questiona também a falta de investimento nas USF (Unidades de Saúde Familiares), quando se sabe que constituem uma mais-valia e que estão previstas no memorando de entendimento.

O relatório salienta a “evidente” poupança e mais-valias das USF, considerando “inexplicável que não se incremente a criação de mais USF e a passagem de USF modelo A a modelo B”.

O modelo A inclui as USF do sector público administrativo com regras e remunerações definidas pela Administração Pública, aplicáveis ao sector e às respectivas carreiras dos profissionais que as integram, enquanto o modelo B abrange as do sector público administrativo com um regime retributivo especial para todos os profissionais, integrando remuneração base, suplementos e compensações pelo desempenho.

“Sendo os CSP essenciais num cenário de crise e sendo as USF consideradas, nacional e internacionalmente, uma boa aposta, porquê este impasse? O próprio MdE [memorando de entendimento] negociado com a Troika recomendava o seu incremento”, sublinha o observatório.

Na análise deste ano, o OPSS chama a atenção para a necessidade de intensificar o ritmo de reorganização, desenvolvendo as várias unidades funcionais, dos CSP.

Aperfeiçoar os indicadores e o modelo de avaliação do desempenho, atribuir autonomia de gestão e responsabilização aos agrupamentos de centros de saúde, desenvolver os sistemas de informação, instituir uma política previsional de recursos humanos e avançar com as experiências do enfermeiro de família, são algumas das principais recomendações do observatório este ano, no âmbito dos CSP.

O OPSS chama ainda a atenção para a necessidade de se avaliarem os resultados das Unidades Locais de Saúde (ULS), revelando ter iniciado com o presente relatório “uma linha de investigação relacionada com as ULS”.

Fonte: Diário de Notícias, 30 de Junho de 2014, por Lusa

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