O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) disse hoje que “surpreende e espanta” que a associação Nacional de Farmácias “não esteja preparada para respeitar a vontade dos doentes” na questão relativa à prescrição do medicamento pelo médico.
José Manuel Silva reagia, em declarações à Agência Lusa, ao facto de a Associação Nacional de Farmácias (ANF) incitar os seus associados a desobedecerem à prescrição do médico, argumentando que o direito de opção exercido no consultório é ilegal e que a escolha dos medicamentos deve ser feita no ato da dispensa, ou seja na farmácia.
Numa circular da ANF, a que a Lusa teve acesso, lê-se que “as farmácias não devem qualquer obediência ao exercício do direito de opção no consultório médico, porque é ilegal”.
Na resposta, José Manuel Silva salienta que os médicos “respeitam a vontade expressa dos doentes”, independentemente do momento em que é exercida.
“A mesma ANF que quer colocar uma taxa sobre cada receita, a ser paga pelos doentes ou pelos novos impostos, não quer agora respeitar a vontade dos doentes se essa vontade for exercida junto dos médicos”, disse o bastonário dos médicos.
Quanto à questão dessa obediência ser ilegal, como sustenta a ANF, contrapôs que a lei é “omissa” em relação à questão, pelo que “não é ilegal”, acrescentando que “acima da legalidade deve estar o direito de escolha do doente”, devendo as “farmácias aprenderem a respeitar” isso “acima de tudo”.
“Mais uma vez se demonstra que a ANF apenas se preocupa com o seu negócio de venda de medicamentos e não com os doentes e os desejos dos doentes. A Ordem dos Médicos lamenta que a ANF apenas queira trocar marcas de genéricos por outras marcas de genéricos, normalmente mais caras, apenas para aumentar o seu lucro e não para benefício dos doentes”, afirmou.
Segundo o bastonário, a Ordem dos Médicos faz votos para que a ANF “aprenda a colocar a vontade e o direito de opção dos doentes acima dos interesses comerciais das farmácias”
A circular, divulgada para os associados da ANF, data de 11 de Dezembro, um dia depois da publicação em Diário da República do despacho do Ministério da Saúde que aprova o novo modelo de receita médica e que deverá entrar em vigor a 1 de Abril de 2013.
Fonte: Correio da Manhã, 15 de Dezembro de 2012