Quebra acentuada verifica-se nas consultas presenciais. “Se for verdade, é uma situação de perigo”
Em Abril houve menos 327 mil consultas presenciais nos cuidados primários, a maior quebra de sempre registada na monitorização mensal dos cuidados de saúde. O balanço é feito a partir dos dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), actualizados ontem até Abril. Nos três primeiros meses do ano registavam-se menos 14 649 consultas presenciais com o médico de família e em Abril o número disparou para menos 341 mil – a descida face ao período homólogo passou de -0,2% em Março para -4,4%. Mesmo nas urgências hospitalares, onde a ACSS destaca uma baixa desejável de 9,8%, a quebra é de 219 mil atendimentos desde o início do ano.
Para Mário Jorge Santos, da Associação de Médicos de Saúde Pública, os dados não devem estar correctos. A ser verdade, diz, a situação é preocupante: ”A manter-se a tendência seriam menos 1,3 milhões de consultas até ao final do ano. Não há tantos milhares de consultas abusivas nem excesso de consultas. Se os dados estiverem correctos é uma situação de perigo para a saúde pública.”
Questionada sobre os motivos desta quebra, a ACSS referiu que houve transferência para as consultas não presenciais e domicílios. “O sistema de saúde está a utilizar as novas tecnologias em função das necessidades dos doentes. Existe um aumento substancial das consultas médicas e de enfermagem no domicílio, demonstrando a capacidade de mudança do sistema de saúde às novas realidades demográficas”, disse fonte oficial.
As consultas não presenciais e os domicílios médicos aumentaram 11% e 8,7% em relação aos primeiros quatro meses de 2011. Mas olhando para Abril, registaram-se só mais 14 153 consultas não presenciais face ao total acumulado em Março – desde o início do ano houve 258 mil atendimentos adicionais deste tipo. Mário Jorge Santos rejeita a ligação: “Consultas perdidas são consultas perdidas. Não há transferência desta ordem para consultas não presenciais pois são atendimentos, não há observação e não servem para tudo”, diz o médico, para quem o aumento destes “atendimentos” tem a ver com um melhor registo. Nos domicílios médicos, defende que a compensação também não será suficiente: exige mais recursos. Desde o início do ano houve 70 mil domicílios.
Para o médico, o efeito dissuasor das taxas moderadoras é principal motivo para a quebra, que se tem sentido nos serviços e rondará as centenas de milhares de consultas desde o início do ano. Pesam ainda aumentos nos transportes e combustível. Acrescenta também que os beneficiários de subsistemas de saúde estarão a optar mais vezes pelo privado. Numa consulta de clínica geral o beneficiário da ADSE paga 3,49 euros, quando a taxa no SNS é de 5 euros. “É gravíssimo. A ADSE, embora seja um seguro pago pelos funcionários, tem sempre défice. E quanto maior for a procura, maior será o défice pago por todos.” Marta F. Reis
Fonte: iInformação, 23 de Junho de 2012