O fundador do Serviço Nacional de Saúde (SNS), António Arnaut, afirmou hoje, em Coimbra, que “o Governo submeteu o SNS à tortura do ‘leito de Procusta’, sujeitando-o à desumanidade da sua visão neoliberal e mercantil”.
António Arnaut deixa de fora da metáfora da medida única, daquela “conspiração, as pessoas de bem, que há nos dois partidos da coligação” governamental, entre os quais incluiu, “embora com alguma hesitação”, o titular da pasta da Saúde, Paulo Macedo, “porque ele deve estar manietado pelo insensível ministro das Finanças”.
O sector privado tem “um importante papel complementar na prestação de cuidados de saúde, mas não deve parasitar ou viver à custa do sector público, através de convenções espúrias e de outras manigâncias conhecidas”, com que “o Estado paga a conhecidos grupos económico-financeiros o ‘mensalão’, que alimenta a sua gula devoradora”, sustentou o antigo ministro dos Assuntos Sociais.
“Infelizmente, o PS não está isento deste desvio de regras de gestão dos dinheiros públicos e desta forma engenhosa de tentativa de privatização”, lamentou António Arnaut, que falava hoje, à tarde, no auditório do Hospital Pediátrico de Coimbra, no fórum ‘SNS com futuro’, integrado na ‘Semana em Defesa da Saúde’, que será encerrado, ao final do dia, por António José Seguro.
A sustentabilidade do SNS, como serviço público de que nos orgulhamos” e cujos “resultados excelentes” nem “a direita ultramontana contesta”, não está em risco por causa da escassez de recursos”, defendeu o antigo dirigente do PS.
“A cupidez e consequente aversão dos grupos económicos que querem substitui-se ao Estado e fazer dos cuidados de saúde uma mera actividade mercantil” é que põem em causa a sustentabilidade do SNS, advogou António Arnaut.
“O SNS é um imperativo ético e constitucional, factor de justiça e de coesão nacional”, é, na perspectiva do seu fundador, “um cravo de Abril que não murchou, apesar das muitas malfeitorias sofridas”, nem “murchará enquanto o PS assumir as suas responsabilidades históricas e constitucionais”.
Em Janeiro, “houve menos 58 mil urgências hospitalares”, devido às novas taxas moderadora”, e, “apesar de terem aumentado as consultas, é lícito admitir que mais de metade daquelas urgências goradas eram casos graves, que poderão ter causado a morte” de um “número inusitado de óbitos de idosos”, advertiu António Arnaut.
Aqueles números, concluiu, são um “aviso, somado a outros casos recentes, de morte por falta de assistência ou de transporte, que o Ministério da Saúde deve escutar”, antes que “os sinos toquem a rebate”.
Fonte: Público, 17 de Março de 2012