“Não compreendemos que projectos de reorganização, com o impacto que têm para as populações onde vão ser implementados, sejam feitos sem ouvir os profissionais que conhecem o terreno, as dificuldades e podem contribuir para as soluções”, afirmou o Bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva, numa conferência de imprensa nas Caldas da Rainha.
Para o bastonário, “é lamentável” que os médicos sejam olhados pela tutela “como avessos às reformas” e que “o seu conhecimento não seja aproveitado” numa reforma em que os médicos “querem colaborar”.
José Manuel Silva associava-se assim às críticas dos órgãos do Distrito Médico do Oeste, com sede nas Caldas da Rainha, que, na mesma conferência, consideraram “inconcebível e lastimável” não terem sido ouvidos pela Administração Regional de Lisboa e Vale do Tejo em relação à proposta de fusão dos centros hospitalares Oeste Norte e Sul.
A proposta aponta para a criação de uma único centro hospitalar (CHO) para todo o Oeste, servindo cerca de 350 mil habitantes e uma área de 120 km, e é considerada “absolutamente insensata” pelo responsável do Distrito Médico do Oeste, Pedro Coito, para quem o novo CHO será “dificilmente governável”.
As distâncias entre municípios da área a servir (Alcobaça, Bombarral, Caldas da Rainha, Nazaré, Óbidos e Peniche Cadaval, Lourinhã, Torres Vedras e parte do concelho de Mafra) “aconselhariam que as populações de Nazaré e Alcobaça tivessem como hospitais de referência os de Leiria e de Coimbra em vez do hospital das Caldas e o de Santa Maria”, defendeu Pedro Coito, criticando o facto de os doentes terem “que percorrer distâncias na ordem dos 120 quilómetros para realizar exames que poderiam fazer no seu local de residência”.
A distrital Oeste da Ordem não contesta que as especialidades médicas possam ser repartidas entre os hospitais de Caldas e Torres Vedras, mas considera “inimaginável” que as urgências médico cirúrgicas fiquem concentradas nas Caldas da Rainha que passará a receber “uma afluência de doentes superior à de muitos hospitais de Lisboa e do Porto”.
A proposta de reorganização, que a ARSLVT disse à Lusa não ser ainda definitiva e cuja versão final “deverá ser conhecida dentro de duas semanas”, carece, segundo o distrito médico do Oeste, “de qualquer fundamentação sólida”, confundindo “de forma simplista o funcionamento e características de algumas valências hospitalares” e sugerindo “soluções que são simplesmente inexequíveis”.
Ainda assim a Ordem dos Médicos deixou expressa a disponibilidade para colaborar na reestruturação dos cuidados de saúde na região, com a ressalva de “não permitir que se desça abaixo dos critérios mínimos de qualidade da assistência aos doentes”, rematou José Manuel Silva.
Fonte: Público, 23 de Fevereiro de 2012