OCDE alerta para a necessidade de estudar o impacto a longo prazo das políticas de saúde.
Quando falamos em gastos com a saúde, sobretudo em cortes de custos, é preciso analisar qual o impacto das medidas políticas a a médio e longo prazo. “Que consequências terão as medidas de incentivo ao uso de genéricos no futuro? Os preços baixarão? Até que ponto a redução de profissionais de saúde que está a acontecer nos países da OCDE afectará os cuidados de saúde prestados aos doentes?”.
As perguntas foram colocadas por Divya Srivastava, economista da OCDE, e são dúvidas que se impõem numa altura em que a despesa em saúde cresce a um ritmo duas vezes superior à criação de riqueza dos países. “Uma grande percentagem da economia está a ser canalizada para gastos com saúde”, afirmou Divya Srivastava. Por isso, “temos de compreender como é que esse dinheiro está a ser gasto e recolher dados para compreender o que está a acontecer com a despesa”, diz a economista.
Novas realidades universais impõem uma nova abordagem das políticas de saúde. “O aumento das doenças crónicas, combinado com o envelhecimento da população, é uma das maiores ameaças para os orçamentos da saúde, tanto nos países ricos como nos pobres”, exemplifica Divya Srivastava. Por isso, os modelos de financiamento tradicionais podem vir a revelar-se ineficientes, estima a OCDE. “Muitos países estão a experimentar novos métodos de pagamento aos prestadores de saúde no sentido de promover a qualidade e a cobertura dos serviços prestados, nomeadamente o financiamento P4P [pagamento pela performance, em Portugal mais conhecido como sistema de incentivos]”, explicou Srivastava.
As organizações começam agora a estudar os impactos das políticas públicas de saúde na qualidade de vida das populações e as conclusões ainda são preliminares. Mas recorrendo ao exemplo concreto da taxa de obesidade em adultos em Portugal – que está abaixo da média da OCDE e que se prevê que ainda venha a diminuir -, Divya Srivastava avançou como hipótese de explicação a decisão política de melhorar a rotulagem dos alimentos.
Mas, para já, as dúvidas são mais que as respostas. “Em Portugal, 25% dos gastos com a saúde são suportados pelo paciente. E é preciso que os políticos analisem se os doentes podem suportar esses gastos”, disse Divya Srivastava. “Os produtos farmacêuticos são uma componente importante da despesa e a factura está a crescer mais rapidamente que os restantes gastos em saúde”, explicou. “Mas se uns dizem que estamos a gastar demasiado em medicamentos, outros defendem que isso é um ganho porque permite reduzir as taxas de internamento”, concluiu Divya Srivastava.
Fonte: Económico, 29 de Janeiro de 2012